sábado, 1 de setembro de 2012

22º domingo do Tempo Comum




Primeira leitura (Dt 4,1-2.6-8)

                Segundo o exegeta Fernando Armellini, o trecho lido como primeira leitura deste domingo, retirado do Livro do Deuteronômio, foi escrito na Babilônia: Babel é o nome hebraico para Babilônia. O flagelo de Deus para Israel. – Entretanto, a partir do século VII, Babilônia desempenha um papel mais direto na história sagrada. A Cidade do mal. – Levantou-se diante de javé com orgulho e insolência (Jr 50, 29-32).
            Israel, coitada para alguns! Desgraçada para outros! Desgraçada, assim considerada, por acharem que lhe faltara a graça, a clemência de Deus. Mas na verdade, ela perdera a devida liberdade, a sua honradez, porque perdeu a terra, o substrato dos seus antepassados, o que eles tanto admiravam e anelavam manter, o templo, seu espaço sagrado, investimentos feitos por reis Davi e Salomão; além do mais temida se não fosse pela sabedoria, seria pela força.
            E agora? Virando a página, Israel está reduzida a uma insignificância, cujo tamanho é sem tamanho, do tamanho da dispersão entre as nações. Quanta humilhação!
            Ainda bem, que apareceu em meio a nebulosidade desesperadora, um piedoso homem, o que aliás, tudo leva a crer que foi Moisés, reanimando os seus companheiros de infortúnio.
            Pois bem, nem tudo está perdido! – Força! Coragem! – É possível que reste dom, dádiva divina: A santa Lei. O trecho em voga lembra que a lei de Israel é sagrada, é obra de Deus, por isso não pode ser alterada.
            Tudo enfim leva a crer que há dois perigos e, que, por isso precisariam ser evitados: tirar algum elemento, eliminar determinadas exigências mais severas, ou ao contrário, acrescentar novas prescrições pela comunidade.
            Há uma possível gravidade em tudo isso porque expõe ao perigo de fazer por “vontade de Deus” aquilo que, ao contrário, não passa de uma invenção dos homens. Se é assim, há o perigo do surgimento da idolatria e, como tal, perigosa, porque conduz a não respeitar mais o ser humano e sua consciência.
            Tenhamos o cuidado necessário para que a religião ao invés de ajudar às pessoas na condução de suas práticas espirituais, ensinamento uma equilibrada interação entre culto e lei, e vice-versa, terminem privando-as do encontro amoroso entre si e com Deus na paz e na alegria de amar, impedindo-as de buscar, consciente e serenamente a condição transcendental.
            Diante de tudo isso, Jesus recomenda aos seus discípulos missionários uma atitude que seja livre e serena: arremessai de cima de vós este jugo absurdo, sem medo de críticas que possam vir daqueles que impuseram indevidamente aos outros, em nome de Deus (cf. Mt 11,28-30).
            Virando a página, passemos para o segundo momento do trecho em voga, os (vv. 6-8). Aqui o autor manifesta a sua alegria pela legislação que Deus confiou ao seu povo, aliás, ainda não deturpada pelas interpretações e pelos acréscimos posteriores. Proclama assim aos seus compratiotas: “... Qual é a nação, de fato, que tem leis e normas tão justas como estas?”.
            Dito isso, agora é hora de voltarmos o olhar para as nossas comunidades. Em alguns lugares e circunstâncias, elas são reconhecidas pelas suas atividades beneficentes. Entretanto, um dia esta atividade subsidiária pode não ser mais necessária, podendo, como temos visto pela substituição da presença das organização assumidas pelas Prefeituras, pelos Estados e até por iniciativas federais.
            Ao parecer visionário de alguns injustos e maldosos, essas comunidades foram fracas e até perderam a sua identidade cristã e, por isso, embarcaram na atitude anti-evangélica e alienada frente ao princípio da solidariedade à dignidade humana.  Seria esta a conclusão? Ou não seria esta outra: Como aconteceu com Israel no exílio, lhes restaria o tesouro, o mais valioso, a dádiva maior que os homens podem receber: a PALAVRA DE DEUS, o EVANGELHO VIVO?

Segunda leitura (Tg 1,17-18.21-22.27)

Da mesma forma a segunda leitura reforça a essência da verdadeira religião, que não consiste em exterioridade, em práticas ingênuas, ultrapassadas, superficiais, mas na dedicação em favor do órfão e da viúva, isto é das “massas sobrantes”.

Evangelho (Mc 7,1-8.14-15.21-23)

Agora é a hora do Evangelho!

1.   Jesus está numa encruzilhada
Jesus é procurado por “inquisidores” enviados pelos chefes religiosos de Jerusalém à Galileia.

2.  A função dessa gente:
Espiar Jesus, dedurá-lo e preparar o arquivo para a sua condenação.

3.  Qual o fator atenuante?
Alguns discípulos seus comem com as mãos impuras. A questão é que, segundo a mentalidade dos chefes religiosos, eles estão infringindo a tradição dos antigos. Ou seja, estão sendo feridos os códigos de pureza, que era o que definia a identidade ética e nacionalista do povo.

4.  Qual é a reação de Jesus?
Jesus remove estes princípios exclusivistas afirmando o essencial para Deus: a vida e amor para todos. O Mestre diz assim: “O profeta Isaías bem profetizou a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: ´Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. É inútil o culto que me prestam, as doutrinas que ensinam não passam de preceitos humanos’. Vós abandonais o mandamento de Deus e vos apegais à tradição humana”.

5.  Inversão de valores: nova moralidade
Com uma inversão, Jesus revela que a impureza é, na realidade, o apego à materialidade do culto, relegando a segundo plano, os gestos de amor ao próximo. “A religião pura e sem mancha diante de Deus e Pai é esta: assistir os órfãos e as viúvas e, suas dificuldades e guardar-se da corrupção do mundo” (Segunda leitura).
A partir do alimento que, sendo ingerido, segue o destino comum, Jesus destaca que o contraste pureza x impureza não está no exterior, corpo, ou nos alimentos, mas no coração. Coração é fonte de ação, boa ou má.

Conclusões a serem refletidas:
Para nos ajudar a interagir a verdadeira fé com a vida que Deus quer, eis aqui algumas conclusões:
a) Os fariseus, apegando-se às tradições humanas e interesseiras, afastam-se da justiça de Deus em seus corações.
b) Pensando assim é possível formular a seguinte pergunta: Continuariam existindo privilegiados e marginalizados, opressores e oprimidos, se as pessoas optassem pela justiça, em meio às relações sociais?
c) É válido salientar que as leituras deste domingo, sobretudo a segunda, nos levam a pensar a verdadeira religião, como sendo “assistir os órfãos e as viúvas em suas dificuldades e guardar-se da corrupção do mundo”. Ou seja, a legítima religião que convence a Deus é a disponibilidade solidária com os marginalizados e seguramente dizer não ao pecado. Eis o desafio que não dispensará o nosso constante empenho: A partir da nossa pertença relacional afetiva e efetiva com a religião, como demonstrar testemunhos fraternais e justos na convivência com os nossos semelhantes, sobretudo os marginalizados?
d) Os patrocinadores de determinados ritualismos alienados e tradicionalismos inconsequentes, porque infectados de preconceitos e tabus, barreiras e ostentações desvairadas, precisam rever essas práticas, porque as mesmas desagradam a Deus, impedindo o cumprimento de sua vontade.  
e) A última: procuremos ver quais são as impurezas existentes em nossos corações, na sociedade e nas comunidades?

Pe. Francisco de Assis

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