sábado, 9 de março de 2013

4º DOMINGO DA QUARESMA - Comentário litúrgico




A 1ª leitura está completamente sintonizada com a 3ª leitura, o Evangelho deste domingo.  Os israelitas não alcançam sozinhos à terra prometida, isto é a planície de Jericó, a terra da liberdade, mas Deus os conduziu através de Moises e, depois, através de Josué. Como haver discordância se, também, o filho mais novo, de que nos fala a parábola, não chegou à casa do pai sozinho, mas conduzido pelo amor misericordioso do pai?
O trecho do Evangelho deste domingo é um apelo para que reflitamos, particularmente, sobre a extraordinária figura do pai do “filho pródigo” e do filho mais velho. Aliás, há quem diga que, é preferível identificar a parábola como sendo a do “pai misericordioso”.
Na 2ª leitura, Paulo escreve para atingir o seguinte objetivo: contestar a atitude dos falsos missionários. Eram missionários desonestos, porque pregam outro evangelho, colocando em perigo a essência do verdadeiro Evangelho.
No texto a ser refletido, o Apóstolo Paulo insiste em dizer que “quem está unido a Cristo é uma criatura nova. As coisas antigas passaram, agora existe uma realidade nova!” (v. 17).

I Leitura (Js 5,9a.10-12)

Deus, que conhece e solidariza-se com os sentimentos dos outros, decide um dia manifestar-lhe o seu plano: libertar o povo de Israel da escravidão dos faraós do Egito. Enquanto Moisés está pastoreando o rebanho no monte Horeb, escuta Deus falar assim: “Eu vi a aflição do meu povo que está no Egito e ouvi os seus sofrimentos e desci para os livrar das mãos dos egípcios” (vv. 7-8).
Moisés entendeu que o Senhor precisava dele. E agora, o que dizer a Deus? Moisés coloca uma objeção: “Eu irei aos israelitas e lhes direi: o Deus de vossos pais me enviou até vós. Mas se eles me perguntarem: Qual é o seu nome, o que é que eu lhes direi?” (v. 13). Deus responde a Moisés: dirás aos israelitas: “Eu sou aquele que sou”, ou melhor, “Eu serei aquele que serei”.
A leitura de hoje é a conclusão de uma longa viagem. Aliás, essa história foi tratada na I Leitura do Terceiro domingo, próximo passado, no trecho (Ex 3,1-8a.13-15).
Agora, sim, os israelitas estão livres e podem tomar posse de uma terra fértil, lá na planície de Jericó. Para manifestar a própria alegria e a própria gratidão, os israelitas decidem então celebrar novamente a festa da Páscoa, como tinham feito seus pais na noite da saída do Egito.
Antes, porém, preparam-se para conquistar a terra. José promove a circuncisão de todos os hebreus, requisito indispensável para a festa da Páscoa que será celebrada a seguir. A circuncisão era um sinal na carne. Tinha o objetivo de selar a identidade de Israel enquanto povo da Aliança.
A história deste povo é uma imagem do que acontece a nós cristãos. Como os israelitas, nós também fomos tirados de uma terra da escravidão, isto é, da condição de miséria e de pecado em que nos encontrávamos antes do batismo.

Evangelho (Lc 15,1-3.11-32)
     
A parábola trata do mistério do amor do Pai que se alegra em acolher o pecador arrependido ao lado do justo que persevera. Portanto, a parábola não quer dizer que Deus prefere o pecador ao justo, ou que os justos sejam hipócritas; nada disso.
Vejamos, então, que o processo de conversão começa com a tomada de consciência: o filho mais novo sente-se desapontado, sem rumo e sem direção econômica e moralmente. A acolhida do pai e as medidas tomadas mostram não só o perdão, mas também o restabelecimento da dignidade de filho. Esta é, portanto, a condição sine qua non para se restabelecer a dignidade de alguém. O filho mais velho é justo e perseverante, mas é incapaz de aceitar a volta do irmão e o amor do pai que o colheu. Recusa-se a participar da alegria. Com esta parábola, Jesus faz apelo supremo para que os doutores da Lei e os fariseus aceitem partilhar da alegria de Deus pela volta dos pecadores à dignidade da vida.
A parábola pode ser dividida em quatro partes: 1ª) “O pai e o filho mais novo”; 2ª) “O filho mais novo”; 3ª) “O pai e o filho mais novo”; 4ª) “O pai e o filho mais velho”.
“O pai e o filho mais novo”. O filho mais novo pede sua herança. O pai consente, entendendo que todos os filhos têm os meus direitos.
“O filho mais novo”. Termina pagando o preço da teimosia e da imaturidade. Foi sempre livre e feliz, enquanto estava na companhia dos pais; hoje, não passa de escravo, tendo que comer a comida dos corpos. Após ter perdido a condição de cidadão, procurar retornar e ser admitido como escravo.
“O pai e o filho mais novo”. Como o pai reage ao avistar o seu filho? Vendo-o ainda de longe, encheu-se de compaixão. A ação do pai visa restabelecer plenamente o filho. É ressurreição no ato! Quem estava morto, voltou a viver.
“O pai e o filho mais velho”. Agora, entra em cena o filho mais velho. É válido salientar que suas reações o condenam. É radical e incisivo em não entender a atitude do pai, diante do retorno do seu irmão. O verdadeiro pai quer autênticos filhos, e essa autenticidade requer a reconciliação, custe o que custar.
Pois bem, meus irmãos, São Paulo nos oferece um dos melhores conselhos e mais belos dos programas de vida: Caminhar na caridade (amar a Deus e ao próximo, hoje mais do que ontem e menos que amanhã).
O que nós ouvimos no Evangelho de hoje, nos leva a pensar: É hora de desfazer equívocos; de orientar, a mim, em primeiro lugar, depois aos outros; de colocarmos à mostra nossos corações de irmãos e de pais.
Que nós cristãos levemos a presença de Deus para o meio do mundo. Presença atuante: derrete frieza, desfaz o fechamento do coração de alguns; destrói o egoísmo; acende a caridade. Nada de ódio! Perdão, sim! Acolhimento ao outro.
Fortalecei-nos, ó Espírito Santo na fé e na esperança que nos conduza e nos e faça caminhar com Jesus.

II Leitura (2 Cor 5,17-21)
Na carta de hoje, Paulo escreve aos coríntios, para contestar uma falsa atitude, ou seja, apareceram alguns pregadores de um evangelho diferente, ao sabor dos seus interesses cavilosos. E o mais grave é que o faziam com a intenção de confundir e ridicularizar a orientação do Apóstolo Paulo, colocando em perigo a verdade sobre o evangelho: agarravam-se à Lei, esvaziando a paixão, a morte e ressurreição de Jesus.
São Paulo realça bastante o tema da “reconciliação”. Para ele, “purificar-se dos próprios pecados”, implica também o nascimento de uma criatura completamente nova. O autor da Carta, Paulo, dirige aos coríntios esta exortação: “Deixai-vos reconciliar com Deus!”.
Mas só a partir da cruz de Jesus é anunciado o fim da inimizade com Deus e inaugura a era da reconciliação universal. Enquanto esperamos o dia da ressurreição, Deus escolheu apóstolos para exercer o ministério da reconciliação. Por meio deles, o Senhor Jesus continua sua atividade na terra e convoca todos os homens: “reconciliem-se com Deus”.
    
Reflitamos com as disponibilidades do coração de Deus:
- É impressionante, como em plena perplexidade, segundo nos mostra Lucas, no Evangelho, o pai demonstra uma extraordinária misericórdia para com o filho pródigo. É realmente uma imagem do Deus de bondade.
- Para o filho que voltou, nenhum castigo; mas o seu “anel”, a “melhor roupa”. Tudo como antes!
- Estamos convictos de que só seremos cristãos se reproduzirmos em nossa vida, a compreensão, a bondade, a justiça e o acolhimento ao outro?
“Obrigado, Pai querido, porque tua ação é graça sobre graça (e ela apenas) me dá a felicidade de não parar nas belas teorias, mas vivê-las em profundidade! Obrigado, porque me fazes voltar mais um com Teu Filho. (Palavras do querido pastor, poeta e profeta Dom Helder Câmara).

Pe. Francisco de Assis Inácio
Pároco da Paróquia da Imaculada Conceição de Nova Cruz - RN



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