O trecho lido na I leitura de hoje, retirado do
livro do Êxodo, nos recorda uma cena, que está entre as mais célebres da
Bíblia. Essa se refere a uma iniciativa solidária libertadora da parte de Deus,
na qual o próprio Deus se serve da parceria de Moisés que, por sua vez, parte
em missão sob a força do único EU SOU, (revelação do nome de Deus). A Moisés
cabe responder em nome da criação inteira: AQUI ESTOU (1ª leitura).
Deus
é eternamente preocupado em promover a vida para todos. É esse o seu projeto.
Por isso ele optou em defender, antes de tudo, o pobre, o marginalizado, o
oprimido.
No seu Filho,
o Eterno Pai manifestou-se radicalmente, misericordioso. Cabe a nós, tomarmos o
cuidado de viver a caridade. “A caridade não tem hora: quanto mais os dias se tornam
difíceis e ásperos, odientos e maus, mas ela deve imperar em nós e em volta de
nós” [Dom Helder] (Evangelho).
Batizados
que somos e alimentados pela eucaristia, seremos sempre interpelados a fazer da
nossa vida uma eterna sintonia com a iniciativa amorosa de Deus, em favor dos
excluídos, os prediletos de Deus.
Por
isso mesmo, São Paulo ainda chama atenção dos cristãos, para que se mantenham
fiéis, confiando no apoio de Deus (2ª leitura).
Ev. Lc 13,1-9)
Quem já não experimentou por entre os caminhos da
vida, situações injustas, ingratas e decepcionantes? Jesus procura convencer as pessoas, dizendo que não significa
dizer que, estas ou aquelas que são vítimas de determinados episódios
calamitosos sejam mais culpadas do que outras. O que a parábola quer proporcionar é que as pessoas reflitam e
decidam enveredar pelo processo da conversão, para poder respirar e construir
perspectivas de felicidade, vida plena. Em Jesus, Deus sempre dá uma última
chance.
Para
se fazer a leitura exegética e hermenêutica deste texto, como de qualquer um
outro, é preciso que se tenha a lente teológica adequada. Vejamos, Lucas
apresenta Jesus a caminho de Jerusalém, buscando mostrar sempre que é nessa
cidade onde o Filho de Deus é assassinado – que sob o impulso do Espírito, a
Palavra se estenderá a todos, manifestando a prova total do amor de Deus por
qualquer um. Assim sendo, o roteiro feito por Jesus até Jerusalém trata de ser
o julgamento de Deus.
É
nessa perspectiva que nos encontramos diante do evangelho de hoje. No
trecho-luz para a nossa reflexão, São Lucas relata dois acontecimentos
históricos: um crime cometido por Pilatos e o desabamento de uma torre ao lado
da piscina de Siloé.
a. À
luz da fé, como devem ler as tragédias humanas?
Assim
como pensavam os de ontem, pensam também os de hoje, achando que as tragédias
humanas são consequências dos pecados praticados, ou seja, castigos divinos.
Pecou, não tem como se esconder, pagou!
b. O
que diz Jesus?
Antes
de tudo, o que significam as tragédias humanas? São apelos em forma de alerta,
para que prestemos atenção e vivamos deforma mais justa a liberdade e a vida.
Isto sim! Porém, quem pensa que Deus é o deus vingador, engana-se redondamente.
Ele é sim, o Deus oferta-graciosa: “Se vocês não se converterem, vão morrer todos
do mesmo jeito” (vv 3.5). Quando as pessoas não aceitam esse projeto, o que
poderá acontecer? Elas se destroem entre si e geram um número crescente de
excluídos.
c. Atributos
que definirão o ser de Deus: bondade, generosidade e paciência (vv. 6-9)
Trata-se
da figueira. A figueira é uma árvore de aspecto simpático e generoso e bastante
cultural para a Palestina. Uma das suas particularidades é que ela produz
frutos por dez meses ininterruptamente. Um outro detalhe é que ela
representa o povo eleito. Quem planta,
por isso tem o direito de procurar frutos é Deus. O agricultor é o seu Filho. A
sentença do patrão, ao não encontrar frutos, é severa: visto que Israel é uma
figueira ociosa, não tem sentido que continue a viver. Será que Lucas não
esteja retratando os chefes políticos, os economistas e até, quem sabe, os
religiosos, isto é, as lideranças?
Há uma
alternativa feliz! Surge uma solução a partir do agricultor: ele vai remover a
terra, adubar e proporcionar mais luz, enquanto cuidará também da sombra,
evitando ainda que os insetos ataquem. Esses e outros são, portanto, os
elementos necessários para fazer a figueira poder oferecer os frutos
necessários.
O que
quer nos ensinar a parábola? Diversamente dos outros evangelistas que nos falam
de uma figueira estéril, que secou na mesma hora ou pouco depois (Mc 11,12-24;
Mt 21,18-22), Lucas, o evangelista da misericórdia, fala de mais um ano de
espera, antes da intervenção definitiva.
E mais:
A parábola é um convite para considerar esta Quaresma como um tempo de graça,
como um novo “ano precioso” que é concedido para que a figueira produza frutos
saborosos. Que tal? Se ainda não decidimos converter-nos, modificando nossos
pensamentos, nossos projetos, nossas atitudes, chegou a hora de fazê-lo agora.
1ª leitura (Ex 3,1-8a.13-15)
Quando a minha catequista dona Ana Moreira nos
perguntava quem era Deus, respondíamos assim: “Deus é um ser perfeitíssimo,
Criador e Senhor do céu e da terra”. Foi assim que ensinou a catequese
trindentina, isto é, o Concílio de Trento (este Concílio foi celebrado em
Trento, Itália, de 1545-1563, o 19º, convocado pelo Papa Paulo III).
Que
resposta teríamos, se a pergunta fosse feita a um israelita? Certamente ele
responderia assim: “Nós éramos escravos no Egito e Deus veio libertar-nos”.
Portanto, essa é a característica “número um” sobre Deus: o “libertador”. É
claro que, depois Ele se torna Pai, mãe, rei, pastor, etc. e tal.
Conforme
o relato, o trecho de hoje está assim demonstrado:
1. Inicia-se
apresentando-nos Moisés que está pastoreando no deserto do Sinai.
Enquanto Moisés está pastoreando o
rebanho do seu sogro no monte Horeb, Deus lhe diz: “Eu vi a aflição do meu povo
que está no Egito e ouvi os clamores por causa dos seus opressores. Sim, eu
conheço os seus sofrimentos e desci para livrá-los das mãos dos egípcios” (vv.
7-8). Moisés entende que o Senhor
precisa deles. Moisés levanta uma objeção: “Eu irei aos israelitas e lhes
direi: o Deus dos vossos pais me enviou até vós. Mas se eles me perguntarem:
Qual é o seu nome?, o que é que eu lhes direi?” (v. 13.
2. Segunda
parte da leitura (vv. 13-15)
Na
segunda parte da leitura encontramos
a revelação do nome do Senhor. Deus responde a Moisés: dirás aos israelitas:
“Eu sou aquele que sou, ou melhor, “Eu serei aquele que serei”. O que
significa? Vereis por aquilo que farei
quem sou eu.
Conclusão:
É o Deus da aliança envolvendo o ser humano em sua ação salvífica.
II Leitura (1 Cor 10,1-6.10-12)
Alguns irmãos pensam que é suficiente a recepção de
alguns sacramentos, ou mesmo o batismo, para ficarem com a consciência
tranquila da certeza da própria salvação. Assim também pensavam alguns
coríntios, achando que bastava o batismo para entrarem no céu.
Paulo
reconhecia a Comunidade de Corinto pelo seu fervor, porém, percebia nela essa
perigosa ilusão. O que fazer? Para corrigir essa falsa convicção, São Paulo
conta o exemplo dos israelitas, dizendo assim: todos os israelitas acreditaram
em Moisés e o seguiram (...), mas no fim, por causa da infidelidade, nenhum
deles entrou na terra prometida (cf. 1 Cor 10,1-6).
Alô,
alô, nós cristãos, nós os batizados: Lembremo-nos de que as benesses divinas
não nos chegam de maneira automática ou de forma mágica. Dizer que acreditamos
em Deus, que recebemos a Primeira comunhão e a Crisma não basta, é preciso que
demonstremos uma vida parecida com a de Jesus.
Unidos
pela fé, na construção da história, de mãos dadas e erguidas em prece, vivamos
interagindo a fé com a vida. Amém!
Pe.
Francisco de Assis Inácio
Pároco da Paróquia da Imaculada
Conceição
Nova Cruz - RN
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