27º Domingo
do Tempo Comum
“SENHOR, AUMENTA NOSSA FÉ!”
Evangelho: Lc 17,5-10
Os apóstolos
disseram ao Senhor: "Aumenta a nossa fé!". O Senhor respondeu:
"Se vocês tivessem fé do tamanho de uma semente de mostarda, poderiam
dizer a esta amoreira: 'Arranque-se daí, e plante-se no mar’. E ela obedeceria
a vocês". Se alguém de vocês tem um empregado que trabalha a terra ou
cuida dos animais, por acaso vai dizer-lhe, quando ele volta do campo: 'Venha
depressa para a mesa’? Pelo contrário, não vai dizer ao empregado: 'Prepare-me
o jantar, cinja-se e sirva-me, enquanto eu como e bebo; depois disso você vai
comer e beber’? Será que vai agradecer ao empregado, porque este fez o que lhe
havia mandado? Assim também vocês: quando tiverem cumprido tudo o que lhes
mandarem fazer, digam: "Somos empregados inúteis; fizemos o que devíamos
fazer’".
- REFLEXÃO -
O
texto do Evangelho, que nos é oferecido pela liturgia para este domingo, parece
não ser tão simples, pelo menos para algumas pessoas, quando da sua compreensão
diante da abordagem teológica e catequética. Como
vemos, o trecho está dividido em três partes:
1ª)
Um pedido dos apóstolos: “Senhor, aumenta a nossa fé!”
Como
é sentido, Jesus dentro do contexto de sua ação catequética, ultimamente, vem
tratando de temáticas, “como a misericórdia” (cf. Lc 15), “o uso dos bens
terrenos” (cf. 16, 1.13), “pobreza e riqueza” (cf. 16,19-31) e hoje, ele trata
de mais outro tema: “a fé e lealdade a Deus!”
Os
apóstolos se queixam que a sua dosagem de fé está pouca, por isso pedem a Jesus
para aumentá-la um pouco mais. Temos sempre diante da nossa consciência cristã
duas questões: quantidade e qualidade.
Na verdade, de que estamos precisando, de quantidade ou de qualidade de fé? Diz
Jesus "Se vocês tivessem fé do tamanho de uma semente de mostarda,
poderiam dizer a esta amoreira: 'Arranque-se daí, e plante-se no mar’. E ela
obedeceria a vocês".
Segundo
a resposta de Jesus, fica, portanto, elucidado que não é questão de quantidade,
mas de qualidade: um “grãozinho” de fé autêntica seria suficiente para realizar
qualquer fenômeno. Ou seja, sem a fé e a oração, os cristãos não seriam capazes
de viver decisivamente sua adesão a Cristo e de cumprir seus exigentes
preceitos.
2ª)
Atitude desconcertante: um patrão aparentemente áspero
Nesta segunda parte, nós nos
deparamos com uma questão bastante desconcertante: depois de um dia de
trabalho, sob um sol causticante, coroado pelo cansaço, o patrão, em vez de
convidar o empregado para jantar, trata-o asperamente, pedindo-lhe que prepare
uma ceia, antes tendo que lavar-lhe os pés e servi-lo, e depois disso, aí sim,
é que o trabalhador poderá se alimentar.
Mas
o que é mesmo que Jesus nos quer ensinar? A parábola de hoje quer desdizer a
imagem de Deus, como sendo aquele que ensina e sustenta a “religião dos
merecimentos”.
Tendo
que sobressair aqui um detalhe: o patrão que representa Deus e os servos que
somos nós, ao contrário daqueles que só procuram viver a fé e o amor se houver
recompensa, o cristão deve alimentar sempre em si duas verdades: “ele é um
simples servo, nada lhe é devido e tudo recebe por pura graça, além de
demonstrar confiança radical n´Aquele que, sem mérito da nossa parte, nos
chamou ao Seu serviço”. Também é verdade que Deus nos compreende e não nos
abomina por causa das nossas ingênuas pretensões, como por exemplo, correr
atrás da “religião dos merecimentos”, apesar de tal mentalidade está
equivocada. Cuidado, para não acumularmos méritos diante de Deus, alimentando
segundas intenções, isto é, o interesse egoísta. Pois é, quem disse que Deus é
do tamanho da condição de um auditor, preocupado o tempo todo em registrar
créditos e débitos?
3ª
parte) Conclusão:depois de ter feito tudo, o servo diz: “sou um servo
inútil!”
Mesmo que, depois de ter
realizado tudo por amor a Deus, a esse ou aquele (ao seu próximo), à sua
comunidade de fé e de amor, inclusive ao pobre, o mais pobre e carente,
excluído da sociedade , após ter consumido a idade, a saúde,
renunciado a qualquer outro bem, considerando o verdadeiro e maior projeto de
vida: servir a Deus e aos seus semelhantes, ainda que o mundo, a sociedade e
até mesmo a Igreja tenham negado o reconhecimento, o verdadeiro cristão deveria,
tomado pela convicção de fé, amor e alegria, dizer assim: “só cumpri com o meu
dever; sou um servo inútil!”.
E
mais, agindo na gratuidade, esta é a condição para sermos felizes, reconhecidos
e abençoados por Deus. Semelhantes seremos ao Pai Querido, se fizermos assim.
PARA REFLETIR:
- “A fé e o amor são os dois
guias de cego que te conduzirão, através de caminhos desconhecidos, até os
segredos de Deus” (S. João da Cruz).
-
Aprendamos com a parábola deste domingo: ela nos transmite lições de humildade
e fé, e nos recorda que tudo nos vem gratuitamente de Deus.
Pe. Francisco de Assis
Pároco de Nova Cruz/RN
Pároco de Nova Cruz/RN
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