sexta-feira, 18 de maio de 2012

O silêncio diante do burburinho midiático



“É impossível não comunicar” é uma afirmação célebre do pesquisador Paul Watzlawick, do Mental ResearchInstitute de Palo Alto, Califórnia, que desenvolveu inúmeras pesquisas sobre a comunicação humana em conjunto com Gregory Bateson e Don Jackson. Ao ler a mensagem “Silêncio e Palavra”, do Papa Bento XVI, para o dia Mundial das Comunicações Sociais, celebrado em 20 de maio, fiz uma associação imediata. 

Na primeira metade do século XX, enquanto a maioria dos pesquisadores nos EUA se focava nos estudos sobre as mídias massivas (imprensa, rádio, televisão, cinema etc), esses pesquisadores procuraram compreender a complexidade da comunicação humana, em vez dos meios de comunicação de massa. Os meios de comunicação de massa são hábeis no barulho, no estrondo, na polemização sem tempo nem espaço para o silêncio, para a reflexão, para a ponderação. Os meios de massa não dão tempo para o outro (leitor, ouvinte, telespectador, cidadão) se manifestar, pois nunca silenciam: alardeiam, simplesmente. Silenciam a voz da sociedade com sua verborragia, saturando-nos de informações, as quais nem temos tempo para digerir criticamente. Não há espaço nem tempo para isso. Somos bombardeados intensamente, cotidianamente pelas informações midiáticas.

É “impossível não comunicar”, como diz Watzlawick, porque todo comportamento é comunicativo, incluindo o silêncio. O silêncio tem uma multiplicidade de sentidos e leituras, dependendo do contexto onde seja exercido. Pode ser uma atitude de escuta amorosa e respeitosa, como pode representar uma reprovação ou atitude de indiferença. Contudo, o silencio é essencial para a existência do diálogo, pois dá o tempo necessário para que nosso interlocutor se manifeste e o possamos ouvir com atenção. Diz Bento XVI: “Calando, permite-se à outra pessoa que fale e se exprima a si mesma, e permite-nos a nós não ficarmos presos, por falta da adequada confrontação, às nossas palavras e ideias”. 

E, de fato, precisamos muito do silêncio na sociedade contemporânea, chamada de “Sociedade da Informação”, portanto, da palavra, do texto, dos dados, dos cálculos, dos bits. Com tamanha saturação de informações, precisamos do tempo do silêncio para exercer uma leitura crítica, contemplativa, meditativa dos fatos, dos acontecimentos. Como ressalta Bento XVI: “Quando as mensagens e a informação são abundantes, torna-se essencial o silêncio para discernir o que é importante daquilo que é inútil ou acessório.” Somos convidados a imprimir nosso próprio ritmo, impondo nosso silêncio, ao burburinho dos meios de comunicação de massa, que mais confundem do que explicam os fenômenos da sociedade.

Juciano de Sousa Lacerda
Professor e Pesquisador do Mestrado em Estudos da Mídia da UFRN

Fonte foto:http://www.celepar.pr.gov.br/

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