A Eucaristia é a celebração de
um acontecimento vivenciado pelas comunidades cristãs, que se reúnem em meio à
graça libertadora: o nascimento, morte e ressurreição de Jesus que, a partir de
gestos concretos, nos santificou e nos salvou, perdoando nossos pecados.
A alternativa salvadora vem com
Jesus que se encarna nos irmãos e irmãs, os que são pobres, simples e abertos
ao seu projeto de vida, esperança e paz (1ª leitura e Evangelho).
Em toda e qualquer época,
especialmente, neste tempo do advento, a nossa reação cristã deve dar a
seguinte resposta: “Estamos aqui para fazer a tua santa vontade” (2ª leitura).
Sirvamo-nos ainda do testemunho
da Senhora Isabel e, a exemplo dela, perguntemos: “Como posso merecer que... o
meu Senhor me venha visitar?”.
I leitura
(Mq 5,1-4a)
A título da
contextualização, é possível oferecer algumas informações, tais como:
No
tempo do profeta Miquéias a situação política, social e econômica de Israel era
catastrófica, por isso, preocupante. Os sinais de violência, corrupção, dominação
patrocinados pelas lideranças que detinham os poderes judiciários, políticos e
até religiosos provocavam estarrecimento.
O
rei Ezequias até que é um homem bom, mas suas qualidades administrativas são
fracas.
E
o que dizer do profeta Miquéias? Nessa situação embaraçosa, surge o profeta.
Miquéias exerce o seu ministério na pequena Vila de Belém de Judá, da
antiquíssima família de Éfrata, de onde está para surgir o “Dominador de
Israel”, oferecendo um convite à esperança.
O
cap. 5 de Miquéias fala do messianismo.
De fato, o trecho trata de um soberano que reina a partir dos pobres e
pequenos, rompendo com a ideologia palaciana.
O
oráculo inicia privilegiando Belém, desprezível aos olhos da corte instalada em
Belém. Portanto, a salvação, não vem da capital, vem de uma vila, da roça,
exatamente como no início da monarquia em Israel, quando Deus escolheu Davi, um
jovem pastor, para organizar e salvar seu povo.
O
vers. 2 fala da restauração do povo.
O profeta mostra, simplesmente, dois sinais: o da mulher que dá a luz e a volta
dos exilados. Esses sinais tratam de vida nova e de sociedade alternativa.
No
vers. 3 é descrito as qualidades do poder popular. É poder a serviço do bem e
da felicidade plena da comunidade: Paz=shalom!
Esta é a lógica de Cristo!
Evangelho
(Lc 1,39-45)
Esta é a seção chamada de “a
visitação de Maria a Isabel”.
Antes
de mais nada, é válido dizer que São Lucas narra o nascimento do Menino de
Jesus, em Belém de Judá, como sendo o cumprimento da profecia de Miquéias (I
leitura). Por aquela que aceita conceber o Filho de Deus, nascerá aquele traz a
paz.
Vejamos
o que Lucas quer nos ensinar no episódio de hoje.
1.
Comecemos pela observação, aparentemente corriqueira, com a qual começa a
narrativa: logo que entrou na casa de Zacarias, Maria “saudou Isabel” (v. 10).
É o costumeiro “bom dia!” “Tendo ouvido a saudação” o Batista estremeceu de
alegria. Trata-se da saudação judaica: “Paz”=shalom! A paz sintetiza o acúmulo de todos os bens que Deus
prometeu ao seu povo.
Nos
lábios de Maria a palavra “paz” é uma solene proclamação de que chegou ao mundo
o esperado Messias e que com ele teve início o reino de paz anunciado pelos
profetas.
Perguntemo-nos:
O encontro com um cristão transmite sempre serenidade, alegria, paz? Anunciamos
a paz só com palavras ou ajudamos a construí-la com a nossa vida?
2.
Palavras que Izabel dirige a Maria: “Bendita és tu entre as mulheres”.
Aplicando a Maria esta mesma frase, Lucas quer afirmar que também ela pertence
à categoria dos instrumentos fracos e simples através dos quais Deus realiza
suas obras de salvação. Através de Maria ele realizou o acontecimento mais
extraordinário da história: deu aos homens o seu próprio Filho.
3.
Isabel continua: “donde me vem esta honra de vir a mim a mãe do meu Senhor?” (v.
43).
Há ainda outros detalhes significativos que
colocam em paralelo a visita de Maria com o episódio da Arca da Aliança: Maria
bem como a Arca permanecem durante três meses numa casa da Judéia. É sabido que
a Arca é recebida com danças, com hinos festivos e é portadora de bênçãos para
a família que a recebe (2 Sm 6,10-11) e Maria ao entrar na casa de Zacarias,
faz estremecer de alegria o pequeno João Batista (que representa todo o povo do
Antigo Testamento que está à espera do Messias). Portanto, Maria é a Nova Arca,
que porta o seu Filho, o Senhor da Vida.
A
nossa missão é também a de portar o Senhor para nós e para os outros. Temos
realizado essa missão?
4.
Maria é considerada “Bem-aventurada” porque “acreditou no cumprimento das
palavras do Senhor” (v. 45). Ela conseguiu depositar sua confiança em Deus,
cultivou a certeza de que, não obstante todas as aparências contrárias, a
palavra de Deus teria se cumprido.
Não
é fácil acreditar, especialmente quando se exige de nós contrariar o nosso “bom
senso”. Será que estou sendo claro? É que as atitudes de alguns, às vezes,
contariam o discernimento da fé. Será que a qualidade, ou melhor, o nosso
estágio de fé, não está precisando se fortalecer melhor, a exemplo do que diz
S. Paulo: “Sei em quem acreditei!?”. Não vale brincar de ter fé!
Maria
nos ensina que vale a pena confiar sempre nas Palavras e no Projeto do Senhor.
Segunda
leitura (Hb 10, 5-10)
A segunda leitura nos
oferece a advertência para que, nas nossas atitudes, sejamos dóceis e dispostos à obediência, a
exemplo de Jesus, permitindo assim, que Deus se manifeste através da
fragilidade humana.
Pe.
Francisco de Assis Inácio
- Pároco -
Paróquia da Imaculada Conceição – Nova Cruz
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