A fé não admite fronteiras
Lc 7,1-10
Para fins de uma maior compreensão a respeito do
sentido teológico do texto, suponho a necessidade de saber quem é a pessoa
desse centurião?
O centurião na hierarquia militar
romana era o sexto na cadeia de comando numa legião. Era o oficial responsável
por comandar uma centúria, encarregado da disciplina e instrução da legião. O
centurião era o equivalente a posto de capitão, na hierarquia militar no
exército de um qualquer país. A centúria equivale a uma tropa de 80 soldados.
Aliás, é um engano comum creditarem o nome ao número (centúria e 100).
A figura dele é descrita por traços
significativos, tais, a saber: não aparece o seu nome, o que, aliás, pode
significar qualquer um de nós, é um pagão, simpatizante da religião e das
práticas judaicas, às quais tem dedicado parte da sua fortuna construindo uma
sinagoga.
O centurião reconhece a dignidade de
Jesus: aproxima-se dele por intermediários e não se atreve a hospedá-lo. O que
mais importa é que crê no poder sobrenatural de Jesus. O mesmo reconhece que
basta uma ordem de Jesus para que aconteça a cura.
O relato desemboca de forma bem
definida, demonstrando o centurião, não obstante ser pagão apresenta sua total
expressão de fé no poder e na misericórdia de Jesus, dizendo-lhe: “Senhor, não te incomodes, pois não sou
digno de que entres em minha casa, mas dize uma palavra, e meu servo ficará
curado”. E da parte de Jesus, a fé do centurião lhe causa uma profunda
admiração. Jesus voltou-se para a multidão que o seguia e disse: “Eu vos digo
que nem mesmo em Israel encontrei uma fé tão grande”.
Quanto à alusão feita a Carfanaum, é
um detalhe é importante, pois, simbolicamente, esta cidade, às margens do Lago
de Genesaré, abre a mensagem perspectiva para a missão de Jesus aos pagãos...
Um outro detalhe, é que Lucas chama
a devida atenção para a admiração-louvor que Jesus, de coração contrito e
reconhecido, fez naquela ocasião, àquele militar, o centurião, pela sua
maturidade de fé, por causa da cura do seu servo.
A fé tem o seu segredo. “A fé é exatamente entregar-se, confiar
plenamente em Jesus, e permitir que sua palavra conduza para além de tudo
aquilo que, por nós mesmos não somos capazes de compreender e fazer”. A fé
estende à mão a outra mão, clamando, proclamando e reclamando humildade:
“Senhor eu não digno”. “A fé nos revela o que não podemos alcançar com a
inteligência; ela é a substância das coisas que se esperam. A fé e o amor são
os dois guias de cego que te conduzirão, através de caminhos desconhecidos, até
os segredos de Deus”. (São João da Cruz).
Aproximando-nos do tema deste
domingo, é possível afirmar que a fé não admite fronteiras, chegamos a
compreender a iniciativa do centurião em ajudar a resgatar entre os gentios e
os judeus a vocação de Israel. Ou seja, agora tudo indica que Israel conseguirá
promover a inclusão dos estrangeiros na ação misericordiosa de Deus. Agora,
sim, Deus tem vez e voz na sua iniciativa libertadora. Por isso, tem razão
Jesus quando luta em evitar de restringir sua missão ao povo israelita. Ele é a
proposta de salvação que é oferecida a todos e a todas, valorizando os
testemunhos amorosos, humildes e respeitosos das pessoas estrangeiras, a
exemplo do senhor, o centurião.
Como cristãos, não podemos admitir
fronteiras na nossa prática missionária, porque a Palavra que liberta e promove
não precisa pedir licença para agir em favor da vida de qualquer que seja o
filho de Deus, pertencente a essa ou àquela cultura, membro desse ou daquele
sistema religioso, que tenha esse ou aquele laço de sangue. Caso contrário,
estaremos institucionalizando a prática da desprezível injustiça.
Assim sendo, tem razão o que diz o
velho Pedro na casa de Cornélio: “De fato, estou compreendendo que Deus não faz
discriminação entre as pessoas. Pelo contrário, ele aceita quem o teme e
pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença” (At 10,34-35).
O trecho do Evangelho de hoje é
concluído em consonância com a primeira leitura, conforme o episódio
transferido a Jesus, aquilo que era pedido a Javé, ou seja, a oração de Salomão
pede que Deus não deixe de escutar e atender a qualquer pedido dos
estrangeiros, pois os horizontes distantes da fé são eliminados. E Jesus,
atenciosamente, considera o pedido do estrangeiro porque a fé não admite
fronteiras.
Para refletir:
- Israel é interpelado pela fé,
esperança e justiça que tem na Palavra de Deus a formar um só povo, uma só
família. E nós, como cristãos, como
temos demonstrado a nossa fé na força da Palavra de Jesus? Atenção: precisamos
olhar não só para nós, mas também para os outros que “estão fora” com a
docilidade do Espírito.
- Paróquia da Imaculada Conceição
-
Pe. Francisco de Assis Inácio
Nenhum comentário:
Postar um comentário