Ø Introdução
Bendito seja Deus que reúne a comunidade
para celebrar a vida, a fé e o amor em Cristo. Ele é o único mediador na
relação entre Deus e o seu povo.
Neste domingo, as leituras nos chamam
atenção para agradecermos o seu amor, demonstrado, sobretudo, pela atitude de Jesus em curar o
cego e mendigo de Jericó, o filho de Timeu, Bartimeu.
Jesus
é sempre a alternativa indicada para quem como o cego Bartimeu busca um
processo, verdadeiro caminho de fé. Portanto, “só na fé é possível ver
claramente e seguir a Jesus no caminho que leva a salvar a vida, perdendo-a”
(Ev. Mc 10,46-52).
A
primeira leitura nos indica a ideia de um Deus que, na sua própria iniciativa
amorosa, procura guiar os “cegos, coxos, mulheres grávidas e mulheres que deram
à luz”, proporcionado a esses degredados (expatriados) a possibilidade do
retorno à sua pátria. É Deus, mais uma vez, provando a sua solidariedade, possibilitando
a alegria plena da libertação aos escravizados, “sem vez e sem voz” (1ª leitura:
Jr 31,7-9).
O autor da assim chamada Carta
aos hebreus, comumente atribuída a Paulo, no escrito de hoje, nos leva a
compreender a figura do sumo sacerdote se realizando em Jesus. Seu sacerdócio é
demonstrado e tem o seu coroamento na “justa compaixão” que testemunhou aos
homens e mulheres no momento da Paixão: ele sabe entender nossas fraquezas (2ª
leitura: Hb 5,1-6).
Comentário sobre os textos
bíblicos
Ø Primeira
leitura (Jr 31,7-9)
Jeremias é tido por muitos como sendo “o
profeta das previsões trágicas e catastróficas”. Porém, é justo que se tome o
cuidado necessário para não responsabilizar com tamanha injustiça, “o homem
boca de Deus”, o intermediário entre Deus e o povo. Assim sendo, numa certa
parte do seu livro, porém, surpreendentemente ele faz previsões felizes. Basta
vermos que em dois capítulos 30-31 é tratado o tema da esperança e da alegria,
porque se trata da restauração do povo.
Depois do convite para louvar o
Senhor, o profeta imagina estar contemplando muitos dos que estão retornando.
Entre esses tantos há pessoas “cegas, coxas, mulheres grávidas e mulheres que
deram à luz”. Que aventura arriscada! Ainda bem que não faltou a intervenção
divina. Com um detalhe: os contemplados são os mais fracos e indefesos, as
massas sobrantes e os marginalizados, os fracos e indefesos, apesar dele se
preocupar com qualquer um que seja o seu filho, a sua filha.
Esses foram exilados há 100 anos, na
Assíria, desde 722 a.C. Foram impossibilitados de superar as próprias
condições, de encontrar o rumo da salvação. Por isso, representam todos aqueles
que Deus chama da escravidão do pecado para uma vida nova.
Vejamos o próprio Deus se
encarregando de reunir e organizar o seu povo sofrido, trazendo-o de volta à
sua pátria. Esses sintetizam os sinais de esperança no meio da dor e do
sofrimento. Deus é como o pastor que conduz: “Eu sou um pai para Israel, e
Efraim é meu primogênito” (v. 9c).
Quanto amor comprovado! E nós? E as
nossas comunidades, como manifestam o próprio amor a Deus e também aos nossos
semelhantes?
Ø Evangelho
(Mc 10,46-52)
Alguns detalhes nos chamam atenção
no trecho de hoje:
1º)
Jesus esclarece os discípulos a respeito da finalidade da sua viagem: vai a
Jerusalém para doar a sua vida. Mas também revela o que ele espera de cada
discípulo: que renuncie a todos os seus bens, a qualquer ambição de poder e que
esteja disposto a colocar-se a serviço dos irmãos sem esperar nada como barganha.
2º) Tudo leva a crer que o seu itinerário está no fim.
3º)
O episódio é importante do ponto de vista catequético, pois todas as pessoas
que se encontraram com Jesus até o presente momento não foram capazes de gesto
que traduzisse o tema do discipulado radical do Evangelho de Marcos.
4º)
Jesus está diante do cego, Bartimeu. A cura do cego encerra a parte do
Evangelho de Marcos. Os apóstolos e a multidão o seguem, mas estão cegos. A
preocupação deles é tão somente com a vitória do Mestre neste mundo. Bartimeu
representa todas essas pessoas.
A conjuntura em que se encontra o
cego: Está à beira do caminho, mendigando. Sua situação lembra a dos que vivem
à margem da sociedade.
A ouvir que Jesus está passando,
Bartimeu prorrompe em sua confissão: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de
mim!” (vv. 47-48). O pobre coitado,
contudo, encontra-se diante de barreiras: “Muitos o repreendiam
para que se calasse” (v. 48). É interessante, “todas as vezes que um justo
grita, carrascos vêm calar”. E mais: Quem manda calar o cego é o mesmo que
procurar a calar Jesus. Quem? A sociedade, o mundo, os inimigos da vida.
E hoje, quem é que tenta emudecer a
voz roca do povo de tanto gritar por razões para viver? Quando é que nosso povo
vai tomar consciência de que viver de esmolas não é a melhor alternativa de
vida?
5º)
Jesus não faz nem gesto de cura, porque a fé do cego é de excelente qualidade.
É fé que faz ver e seguir Jesus pelo caminho: “No mesmo instante, ele recuperou
a vista e seguia Jesus pelo caminho” (v. 52b).
6º
detalhe) O fato tem um objetivo catequético: O encontro com Cristo, com a sua
luz, não o deixam numa situação confortável. Bartimeu, antes, estava sentado;
agora deve levantar-se e caminhar.
Verdadeiro discípulo (a) é aquele
(a) que, pela fé, enxerga e segue a Jesus rumo a Jerusalém, rumo à vida de
todos os dias.
Ø Segunda leitura (Hb 5,1-6)
Jesus Cristo é o sumo e eterno
sacerdote digno de fé e misericordioso. Ou seja, ele
é mediador entre Deus e os homens e as mulheres. Hebreus quer mostrar à
comunidade de ontem e a de hoje a excelência, originalidade e unicidade do
sacerdócio de Cristo. E ainda
mais: Cristo solidário em tudo com as pessoas é o único mediador entre Deus e a
humanidade, pois sua morte é o sacrifício que apaga nossos pecados e nos
aproxima, de modo extraordinário e único, de Deus.
PE. FRANCISCO DE ASSIS INÁCIO
Pároco da
Imaculada Conceição
Nova Cruz - RN