O novo pároco, Padre Francisco de Assis Inácio, esteve reunido com membros da equipe do informativo paroquial de Nova Cruz, Comunicação e Fé, para uma
entrevista que será publicada na edição de setembro/12. Pe. Assis fala aos
paroquianos sobre sua trajetória eclesial e como pretende atuar em Nova Cruz.
Considerando a vocação como um chamado divino, como se realizou essa vocação sacerdotal providente de Deus em sua vida?
Considerando a vocação como um chamado divino, como se realizou essa vocação sacerdotal providente de Deus em sua vida?
Pe. Assis: O grande artista nordestino, Luiz Gonzaga, costumava
dizer: “Quando Deus escolhe um, Ele não tira os olhos de cima”. Assim, pois, é
com toda vocação, sobretudo a vocação sacerdotal. Em Puebla, os bispos da
América Latina, no número 860, já afirmaram que toda “vocação ministerial e
evangelizadora na Igreja não é coisa que dependa exclusivamente da iniciativa
pessoal. Primordialmente é chamado gratuito de Deus, vocação divina, que se
deve perceber graças a um discernimento, escutando o Espírito Santo e
colocando-se diante do Pai, por Cristo, e frente à comunidade concreta e
histórica à qual se há de servir”.
Convence-me enormemente este conceito vocacional pela sua clareza
quanto aos aspectos teológico-antropológico-pastoral-eclesial e existencial.
Contextualizando
Na minha vida, esse chamado pode ser contextualizado. Morava com
meus pais, em Laranjeiras do Abdias, junto aos rios Trairi e Araraí. Tinha meus
10 anos. Guiado e suportado pela fé de minha mãe (dona Antônia), de minha
catequista (dona Ana Moreira) e de algumas vizinhas piedosas, comecei a
participar da Igreja, mais concretamente dos sacramentos - a confissão e a
Santa Missa - fazendo religiosa e disciplinarmente “as nove primeiras
sextas-feiras do mês”.
A partir dessas práticas espirituais simples, mas importantes e,
não obstante muito criança, começava a respirar o aroma vocacional, sem ainda
saber decifrar a pedagogia divina na sua sabedoria e grandiosidade.
As influências.
Lá pelos idos de 1973, passei a residir na casa paroquial em S.
José de Mipibu, minha paróquia de origem, sob os auspícios do Pároco, o querido
Mons. Antônio Barros, com o objetivo de receber dele o patrocínio dos estudos.
Isto porque minha família não dispunha das condições necessárias para bancar a
continuidade dos meus estudos.
Deus, mesmo sendo Todo-poderoso, se utiliza das circunstâncias
contextuais, de intermediários e outras situações para demonstrar e chamar a
atenção de quem Ele escolhe. Comigo também foi assim. Aquelas santas mulheres
de Laranjeiras, que saíram na frente do meu discernimento vocacional, agora
rezavam por Mons. Barros, Dom Canindé, na época, Pe. Canindé Palhano, e a
comunidade das Irmãs da Divina Providência, que muito me auxiliaram naquele já
falado discernimento vocacional. Deus seja louvado por tudo isso. E louvado
seja por tantos outros têm contribuído para o meu amadurecimento vocacional, em
busca do atendimento ao constante chamado de Deus para que eu seja sempre
disponível no enfrentamento do desafio missionário da Igreja.
Relutância.
Entre não poucas dificuldades, a minha vocação brota, em meio a um
mundo marcado por um contexto sócio-político-econômico-tecnológico, assinalado
pela vivência profunda do tempo, arrastando consigo concepções de
inconsistência e instabilidade nos mais variados âmbitos. Além do mais,
comportamentos assinalados por ideologias materialistas e subjetividade
individual levam-nos a deixar de lado as preocupações pelo bem comum para dar
espaço à realização imediata dos desejos dos indivíduos, à criação de novos e
muitas vezes arbitrários direitos individuais, aos problemas da sexualidade, da
família, da realização vocacional.
Ingresso no seminário
Aos 18 anos, em 1978, no dia 02 de fevereiro, ingressei no
Seminário de São Pedro com mais outros onze vocacionados, onde cursei o ensino
fundamental, filosofia e até o 3º ano de teologia.
Mudança de Diocese.
Faltando-me um ano para concluir os estudos teológicos,
transferi-me para a Diocese vizinha de Guarabira, no brejo paraibano, cujo
bispo era Dom Marcelo Pinto Carvalheira, homem admirável pela sua envergadura
cristã, profética, poética e pastoralística.
A mim, como a tantos, foi entregue o mandato de ir e trabalhar na
Seara do Senhor (cf. Mt 28,19-20). Aqui, pois, se verifica o provérbio: “um é o
que semeia outro é que ceifa“. Eu vos enviei a ceifar onde não trabalhastes;
outros trabalharam, e vós entrastes no trabalho deles” (Jo 4,35-38).
Numa narrativa objetiva, mas quase intimista, procurarei refletir
sobre a origem de minha vocação e como ela se desenvolveu durante esses anos
todos.
Como se deu a sua trajetória sacerdotal pelas
paróquias nas quais esteve servindo à Igreja de Jesus Cristo?
Pe. Assis:
Minha atuação
por onde eu passei
Não obstante navegar
entre as minhas coerências e incoerências, entre avanços e recuos que a vida
tem me proporcionado por todos esses já longos anos, mesmo ainda seminarista,
mas, sobretudo como padre, posso afirmar, com muita sinceridade, simplicidade e
transparência de vida, que graças a Deus procurei corresponder à vocação para a
qual Deus me chamara e escolhera.
Naquela Igreja
guarabirense, situada na região brejeira, tive a oportunidade de trabalhar nas
paróquias de Araruna, Guarabira, Belém, Alagoa Grande, Bananeiras e também em
João Pessoa. Posso testemunhar que fui bastante marcado por uma caminhada de
Igreja, que, na sua vocação missionária entendeu e por isso marcou
profundamente a sua reação profética, sobretudo nas décadas de 60 ao meado de
90. Claro, que a década de 60, como todos sabem, foi a década de maior
efervescência na América Latina. Mas também as duas últimas décadas (oitenta e
noventa), deixaram marcas, em tudo semelhantes àquelas de suas causas. E a
partir daí, diversos movimentos sociais, sobretudo as pastorais sociais ( a
Comissão de Pastoral da Terra – CPT, o Centro de Defesa dos Direitos Humanos,
as Comunidades Eclesiais de Base - CEB’s, o Centro de Estudos Bíblicos – CEBI),
além de outras expressões que se fortaleciam, surgiram da miséria que atingia
as maiorias; dos massacres com os quais convivemos a partir do campo; da
repressão política. Foi assim que fortes correntes de reforma social se fizeram
presentes, sobretudo no campo, por causa da reforma agrária. Somados os prós e
os contras, não se obtinha, como resultado, o cultivo de um otimismo fácil.
Embora haja
círculos eclesiais que expressavam, e ainda continuam expressando, desconfiança
e hostilidade para com essa postura de viver a interação fé e vida, são
numerosos os cristãos leigos, religiosos, padres e bispos que assumiam e
continuam assumindo uma posição profética comprometida. Há já vários anos
afirmara a Assembleia de Santo Domingo: A Igreja, ao proclamar o Evangelho,
raiz profunda dos direitos humanos não se apropria de uma tarefa alheia á sua
missão, mas, ao contrário, obedece ao mandato de Jesus Cristo (n. 165).
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