sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Solenidade do Batismo do Senhor - comentário litúrgico do pároco de Nova Cruz




Introdução

Estejamos atentos para o que significa o Batismo do Senhor. Lucas é claro ao relatar o trecho de hoje, mostrando quem é Jesus e o que ele fez; quem são os seus seguidores e o que devem realizar no coração do mundo.
Por conseguinte, não basta termos recebido o batismo. Aliás, Deus que me perdoe, mas quantos que foram batizados, sem que demonstrem compromisso com a fé e a vida, na relação com Deus, com a Igreja, com o próximo.

I Leitura (Is 42,1-4.6-7)
                Na segunda parte do Livro de Isaías, o próprio Deus faz uma apresentação do seu servo e sua missão. E sua missão é implantar o direito, segundo a vontade de Deus. Com um detalhe, a realização dessa missão, não ocorrerá com as armas e as forças próprias dos poderosos e malvados, mas com as condições da misericórdia, da mansidão e da justiça. Assim, sim, os fracos poderão contar com um Deus que é realmente parceiro. 
                E um detalhe: os primeiros cristãos logo reconheceram neste “Servo do Senhor” a pessoa de Jesus, o Filho de Deus.
E quando se dá essa identificação? Tudo se torna claro naquela tarde em que Jesus é condenado. A comunidade encontra no Livro do Profeta Isaías, a história deste “Servo” que, depois de um processo tirânico, é eliminado.
É bem verdade, que não se sabe, de forma concreta, a quem o profeta Isaías se refere quando trata sobre o “Servo do Senhor”, entretanto, é possível afirmar com segurança, que Jesus realizou tudo aquilo que está escrito no Livro de Isaías sobre esse “Servo” fiel a Deus.
Atenção: Temos aqui descrito a vocação, o dom do Espírito e a missão do “Servo do Senhor”. Que tal, após termos ouvido este relato, examinarmos melhor a nossa missão como filhos de Deus?
Ó Deus, sabemos que, quem procura viver verdadeiramente o Evangelho, corre o rico de dissabores, ajuda-nos, porém, a que nada nos tire do sério na hora de termos que viver a fé, a esperança e o amor do jeito que o teu Filho viveu.


Evangelho (Lc 3,15-16.21-22)
                O trecho do Evangelho de hoje está subdividido em duas seções:
A primeira seção (vv. 15-16). Aqui, de início, Lucas começa dizendo: “Visto que o povo estava na expectativa...”. É, portanto, uma constatação muito carregada de preocupações. Mas quais são essas preocupações?  As carências e suas consequências eram preocupantes. Por exemplo: O escravo esperava a sua liberdade; o pobre, condições de vida mais digna; o doente, a cura; a mulher violentada, a recuperação da sua dignidade, e tantas outras situações que poderiam ser descritas. Além do mais, o aspecto religioso não incutia alegria, mas sim perturbação, medo, angústia: alguma coisa deveria mudar! Eis aqui os motivos pelos quais, João Batista advertia às pessoas o processo da conversão.
Pois bem, naquele tempo a realidade era assim. Hoje, não é diferente, o povo “está na expectativa e se pergunta dentro de seu coração”: quando é que as coisas vão mudar? Temos razão quando falamos dos desvios morais e éticos relacionados aos políticos e outras lideranças, relacionados com a vida das pessoas, causando-lhes a violação de sua dignidade. É verdade! Porém, também é verdade, a nossa indiferença ética e moral diante dos apelos dos pobres, nossos irmãos, portanto, filhos do mesmo Deus, será revista pela justiça divina. “O verdadeiro cristianismo rejeita a ideia de que uns nascem pobres e outros na riqueza, e que os pobres devem retribuir a sua pobreza à vontade de Deus” (Dom Helder).
Pois bem, é preciso dizer aqui que, o povo também vive momentos de esperança. Espera, sonha e se pergunta: Não seria João Batista esse Messias?
João Batista vive as esperanças e as expectativas da comunidade. E, em vez de usurpar o lugar do Messias que está para chegar, ajuda a esse mesmo povo a não desanimar. O precursor reconhece seu papel e lugar: “Eu não sou digno de desamarrar-lhes as sandálias” (v. 16b). Parabéns, João, você entendeu bem que, sua missão é a de apresentar que Jesus é a realização das esperanças do povo, aquele que Deus ungiu como Messias, e não de se revestir de um messianismo alheio, ofuscando a missão do Filho de Deus, como tentam, equivocadamente, alguns e algumas.
Segunda seção (vv. 21-22).
Lucas apresenta Jesus sendo batizado junto com o povo. Esse é um detalhe que prova a atitude solidária da parte de Jesus em relação com a humanidade.
O Evangelho afirma que, enquanto Jesus rezava, o Espírito Santo desceu sobre Ele. Um detalhe: Com isso aprendemos que, para o evangelista Lucas, o dom do Espírito Santo é a resposta de Deus à oração da humanidade (cf. 11,13: “O Pai dará o Espírito Santo àqueles que o pedirem” (cf. também At 1,12-15).
Lucas afirma que, enquanto Jesus rezava, o céu se abriu. Vemos, nesse sinal, a resposta de Deus à esperança do povo. Também em Isaías 63,19, o povo pede a Deus, assim: “Oxalá rasgasses o céu para descer! Diante de Ti as montanhas se derreteriam!”. Pois bem, com Jesus, a esperança orante do povo tem sua resposta definitiva.
E para concluir, é válido salientar que, o centro do Evangelho está no v. 22, ou seja, na descida do Espírito Santo sobre Jesus e na proclamação feita pelo Eterno Pai: “Tu és o meu Filho amado, em ti encontro a minha complacência” (v. 22b). Ele vai implantar o direito na terra (cf. Is. 42,1.4).

II Leitura (At 10,34-38)
                Como é conhecido por muitos, ambos os escritos (o Evangelho e os Atos dos Apóstolos), são de autoria de S. Lucas. No Evangelho, relatou o trajeto de Jesus; enquanto que nos Atos, apresenta o caminho das comunidades que buscavam atualizar as palavras e ações do Mestre em outros tempos e lugares.
                A leitura traz o discurso de Pedro na casa de Cornélio, em Cesaréia. Havia um problema na Igreja primitiva que dividia a comunidade: deveriam ou não os pagãos ser admitidos ao batismo?
                Pedro, no início era contrário; mas depois, porém, disponibilizado ao Espírito, mudou de opinião, entendendo que o Senhor não faz acepção de pessoas. Essa questão de homens puros e impuros, para ele não isso não existe. Todos aqueles que acreditam em Deus e praticam a caridade, pertençam eles a qualquer povo, são aceitos por ele (vv. 34-36).
                Sem pretender sair do rumo dado por Lucas, gostaria de abrir um parêntese, acenando para Pedro, por causa da sua mentalidade. Cristo, ao escolher Simão para ser pedra (a pedra sobre a qual erguia sua Igreja) sabia, de sobra, que o Apóstolo era precipitado e irrefletido. Sabia que esta fraqueza se manteria até a negação... E o escolheu. A meu ver, por dois motivos principais: irrefletido, impulsivo, arrebatado, mas nada morno, nada convencional, nada calculista e frio... Amava! E como!

Pe. Francisco de Assis Inácio
Pároco da Imaculada Conceição
NOVA CRUZ - RN
                

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