sábado, 6 de abril de 2013

Comentário litúrgico - 2º Domingo da Páscoa


“A paz esteja com vocês! Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês” (Jo 20,21)



            “O sepulcro não conseguiu reter Jesus em seus braços. Abriu-se para deixá-lo caminhar pelos corações dos homens, para restituir aos medrosos a coragem, aos indecisos a segurança, aos incrédulos a fé, a todos aqueles que acreditariam nele sem tê-lo visto, a bem-aventurança que hoje nos envolve e nos antecipa a alegria da visão de Deus” (Oliveira, Ralfy Mendes de, O Evangelho em nossa vida. Reflexões litúrgico-catequéticas sobre os evangelhos dominicais, Ano C, Vozes, 1994, 46).

1ª leitura (Atos 5,12-16)
            O texto que ora refletimos, sintetiza a vida da comunidade cristã de Jerusalém. Lucas, o autor dos Atos, deixa claro que, este texto é o retrato da ação de Jesus como prolongamento no modo de ser e agir dos cristãos.
            É hora de analisarmos suas particularidades, uma vez que estas deveriam ser reproduzidas nas nossas comunidades cristãs. 
- Particularidade 1- comunidade ativa: “eles viviam unidos”. A fé cristã estimula os cristãos a viverem em comunhão e solidariedade. Eles formam uma só família; solidariedade é o que não falta; e, de alguma forma, sentem-se responsáveis uns pelos outros e sentem profundamente o que acontece com os mais carentes e sofridos.
            Ontem e hoje, nós também nos reunimos para rezar e louvar, e até alguns inventam de “falar em línguas”, mesmo que não haja “tradutor indicado para tal”. Celebrações mais calorosas, outras menos, unimos vozes afinadas ou desafinadas para louvar a Deus, rezamos uns pelos outros. Tudo é muito interessante e impressionante.
            A questão é essa: Devemos, porém, nos questionar: o nosso comportamento fé e a vida corresponde ao que celebramos? Nossas atitudes são solidárias com os que sofrem?
- Particularidade 2- as pessoas eram estimadas: “O povo lhes tributava grandes louvores”. E nós, manifestamos na nossa vida e na vida dos nossos semelhantes uma fé autêntica, a ponto dos “indiferentes” nos admirarem?
- Particularidade 3- forte atração que a comunidade exercia sobre todos: “Cada dia mais aumentava a multidão dos homens e das mulheres que acreditavam no Senhor”. Aqui cabe a pergunta: nossas comunidades demonstram esses testemunhos todos aos que não têm fé?
- Particularidade 4- O que é que estimulam as pessoas a tornarem-se discípulos (as) de Cristo? Diz-nos a segunda parte do texto (vv. 15-16): “a multidão... acorria, trazendo os doentes e os atormentados por espíritos imundos e todos eles eram curados”. A cura de doentes, a libertação de quem está oprimido e marginalizado, a felicidade de tantos, é prova de que Jesus está vivo e que comunicou aos seus amigos discípulos missionários a sua mesma força renovadora.
            Conclusão: Serão suficientes discursos evasivos ou serão necessárias atitudes corajosas, proféticas e coerentes, conforme as que estão sendo demonstradas pelo Papa Francisco. Oxalá, aprendamos com o Pontífice!

2ª Leitura (Ap 1,9-11a.12-13.17-19)
                O autor, que se identifica como João, diz que está na Ilha de Patmos, um ilha do Mar Egeu. Foi pra lá por recusar em prestar culto ao Imperador. A Jesus Cristo, sim, ele diz dever prestar vênia, isto é, demonstrar a sua fé incondicional. A verdade é que os tempos são difíceis. Domiciano, imperador romano, é um tirano crônico, que exige de seus súditos adoração e o título de “Nosso Senhor e nosso Deus”. Por isso, os cristãos da Ásia Menor são severamente castigados. Para animá-los na fé, João escreve a sua visão, na qual se serve de diversas maneiras as imagens que precisam de uma explicação para poderem ser entendidas.
            Atenção para o verdadeiro ensinamento encontrado no centro dessa leitura do Apocalipse: Quem está no centro das nossas comunidades deve ser o Senhor, isto é, o Ressuscitado, a sua Palavra, e não outros interesses, outras palavras.

Evangelho (Jo 20,19-31)
            Referenciado pela Bíblia do Peregrino, achei por bem me demorar um pouco, entrando por algumas particularidades, que, aliás, as julgo interessante nesse momento da exegese catequética, sobretudo diante de um texto importantíssimo com é esse.
- 20,19-23: Trata-se do dia da nova Páscoa. Os discípulos estão atravancados, temendo serem perseguidos por causa da sua relação com o sentenciado. Surge uma nova alternativa para vencer a dúvida e o medo: O sopro, acompanhado pela saudação da paz trazida pelo Ressuscitado!
            O momento evidencia traços que indicam a Eucaristia, e, sendo celebrada no domingo, Dia do Senhor.
            Outro detalhe: Perdoar pecado. O gesto comunica um poder que discerne e julga, que reconcilia ou exclui: que se dá em primeiro lugar aos discípulos, e que eles exercerão de formas diversas.
- 20,24-29: O episódio gira em torno da dúvida e ao mesmo tempo da profissão feita por Tomé e a declaração final de Jesus. É o incrédulo que pede provas palpáveis, que crê nos milagres indubitáveis.
            Como que desafiando, Jesus aceita submeter-se à prova exigida, mas exige fé. Tomé se contenta em ver, como os outros. A profissão de fé em Tomé é plena.
            A criação da comunidade messiânica: A comunidade agora está fortalecida, pronta para a missão que o próprio Jesus recebeu: ”Como o Pai me enviou, assim também eu envio vocês” (v 21b). Quem garante a missão da comunidade será o Espírito Santo.
            Naquele exato momento o Ressuscitado delineava para a sua Igreja um caminho de libertação. Ela existe para ir ao encontro de cada homem, de cada mulher e levar-lhe o alegre e feliz anúncio de que a partir do duelo entre a vida e a morte, triunfou a vida.
            Diz o Bispo de Hipona, Santo Agostinho, em “Vox Patrum”: “Foi sepultada sua antiga vida, na qual você viveu mal. Ressurgiu a vida nova. Viva bem. Viva de modo a poder viver. Viva de tal modo que, quando você morrer, não tenha que morrer”.
            Para refletir:
- Nossas Eucaristias têm proporcionado nos ajudar no crescimento da fé e no amor aos nossos próximos?
- Que temos feito para fazer valer a nossa convicção missionária em anunciar Jesus Cristo, o Ressuscitado?


Pe. Francisco de Assis Inácio
Paróquia da Imaculada Conceição
Nova Cruz - RN


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