sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

2º Domingo da Quaresma - Comentário litúrgico



O trecho do EVANGELHO deste domingo trata da iluminação que Jesus recebeu sobre a realização da sua missão, que acontecerá não em meio ao triunfalismo, mas através do serviço, da humilhação e da cruz. Jesus procura conscientizar os seus discípulos a respeito de tal projeto, mas só depois da ressurreição é que eles vão conseguir entender tudo.
A SEGUNDA LEITURA continua o ensinamento do Evangelho e convida o cristão a enfrentar a morte, em solidariedade a Jesus e aos seus semelhantes.
A PRIMEIRA LEITURA, em sintonia com a liturgia deste domingo, apresenta o ancião Abraão, que pela sua fé em Deus, recebeu a promessa de uma terra e de uma numerosa descendência.
Assim como aconteceu com Abraão, nós os cristãos, se tivermos a incondicional confiança em Deus, poderemos, sim, aos olhos de alguns, dar a impressão do fracasso, mas na verdade realizar-se-á o que Eterno pretende.

 Evangelho (Lc 9,28b-36)
Comecemos a refletir sobre as Sagradas Escrituras, a partir do Evangelho. Esta passagem é interpretada por alguns como uma breve antecipação da experiência do paraíso concedida por Jesus a um grupo de amigos discípulos, com o objetivo de prepará-los para suportar as duras provas da sua paixão.
Prestemos atenção aos detalhes pedagógicos indicados pelo evangelista Lucas.
Primeiro detalhe: Antes de tudo, ele revela Jesus indo á montanha para rezar (v. 28). É durante um destes períodos espiritualmente intensos que Jesus, com clareza, toma consciência de que foi escolhido para salvar os homens, não através da vitória, mas da derrota. É, pois, compreensível que ele se questione sobre o caminho que o Pai quer que ele percorra. Por isso “sobe a montanha para orar”.
Segundo detalhe: Lucas mostra que durante a oração, o rosto de Jesus muda de aspecto (v. 29). Todo encontro autêntico com Deus deixa marcas visíveis no rosto do homem. Quem é que não reconhece que, após um encontro catequético bem feito, porque foi bem preparado, bem como um momento eucarístico “bem celebrado”, todos voltam para suas casas mais felizes. Também os nossos corações e semblantes ficam resplandecentes nessas circunstâncias, não é assim?
Terceiro detalhe: aparecem dois personagens: Moisés e Elias (vv. 30-31). Eles simbolizam a Lei e os Profetas. Sem Jesus o Antigo Testamento se torna incompreensível, como também Jesus sem o Antigo Testamento permanece um mistério.
Quarto detalhe: Os três discípulos – Pedro, Tiago e João, o que entendem de tudo o que está acontecendo (vv. 32-33)? Há aqui uma minúcia surpreendente: quando se trata de problemas relacionados com a paixão e morte de Jesus, estes três discípulos sempre são dominados pelo sono. É estranho! Por que nos momentos mais cruciais os seus olhos estão sempre pesados de sono?
Tal comportamento é compreensível: Indica que eles não entendem nada do que está se passando com Jesus. É que para eles, só interessa o Jesus glorioso. Agora, porém, quando se trata da doação da própria vida, eles não querem entender.
Quinto detalhe: As três tendas. As três tendas talvez signifiquem o desejo de Pedro de parar para perpetuar a alegria experimentada num momento de intensa oração na companhia do Mestre. Certamente passamos pela mesma experiência. Os problemas e dramas concretos que devemos enfrentar nos atemorizam.
Depois de termos descoberto na oração o caminho que devemos percorrer, temos que iniciar a caminhada em companhia de Jesus, que sobe para Jerusalém para doar a própria vida.
Sexto detalhe: As nuvens. Na concepção bíblica, indica a presença de Deus. Os discípulos compreenderam também que esse será o destino deles. Por isso eles têm medo.
Sétimo detalhe: Da nuvem sai uma voz. É a interpretação de Deus sobre tudo o que aconteceu. O Pai não só reconhece o seu Filho, mas tem a seu respeito, como sendo o “eleito” e  “servo fiel”, no qual ele se compraz.
Oitavo detalhe: Jesus fica sozinho. Moisés e Elias desapareceram. O que significa isto? A Palavra de Jesus agora é o suficiente para a comunidade.
Concluindo: Não é nada fácil acreditar na proposta de Jesus. Muito menos segui-lo. Pedro, Tiago e João, após descer da montanha, “naqueles dias calaram-se e a ninguém disseram coisa alguma do que tinham visto” (v. 36). Nós, hoje, saindo das nossas igrejas, podemos, ao invés, anunciar tudo o que a fé nos permitiu: quem doa a própria vida por amor, entra na glória de Deus.

ü II leitura (Fl 3,17-4,1)
     “Já vos disse muitas vezes, e agora repito, chorando: há muitos por aí que se comportam como inimigos da cruz de Cristo”. Quem são os inimigos de Cristo, na compreensão de Paulo? Os ateus? Não, são ao invés, alguns cristãos da comunidade de Felipe. Eles reduzem a fé ao compromisso de algumas práticas tradicionais: circuncisão, abstenção de alguns alimentos, jejuns. Mas também há cristãos que “se comportam como inimigos de Cristo” (v. 18).
     Mas então, o que devemos fazer para sermos “amigos da cruz de Cristo”? “Os amigos da cruz de Cristo” renunciam a tudo o que nega o seu projeto de vida, pois sabem que são estrangeiros nesta terra, viajantes, nômades como Abraão, a caminho de uma nova realidade.

ü I leitura (Gn 15,5-12.17-18)
     Abraão é um nômade, esposo de Sara, que partiu de um país distante, durante anos se deslocou de um lugar para outro, como um retirante sem rumo. Já está velho e não tem filhos. Mas, num certo dia, recebe uma revelação do Senhor, que lhe promete as duas coisas que ele sempre desejou, mas nunca conseguiu: um pedaço de chão (vv. 7.10) e uma descendência numerosa como as estrelas do céu (9 v. 5).
     Por que Deus fez estas promessas? Na concepção dos rabinos, Abraão tinha atraído as bênçãos do Senhor porque tinha cumprido obras de misericórdia e de justiça. Abraão teve, como único “mérito” – posterior, não anterior – “confiar no Senhor e o Senhor lho imputou para justiça” (v. 6). Abraão manteve esta confiança sem limites no seu Deus.
         A leitura descreve a resposta do Senhor a esta fé: depois de ter feito a sua promessa, Deus cumpre um rito para sancioná-la.
       Segundo os costumes dos antigos povos da Mesopotâmia, quando alguém queria fazer uma promessa muito comprometedora, era realizada esta cerimônia: tomava-se um animal que era esquartejado; as pessoas envolvidas no juramento de fidelidade passavam entre os pedaços de carne, pronunciando esta fórmula: “Se eu quebrar a aliança, aconteça-me o mesmo que aconteceu a este animal”.
         Na segunda parte da leitura (vv. 9-17) se diz que Deus quis confirmar as suas palavras, cumprindo este rito de aliança. O Senhor exige que Abraão mate alguns animais e coloque as suas carnes nos dois lados de uma vereda; em seguida, como uma chama de fogo, ele passou no meio das vítimas.
         Vejamos bem: Deus cumpriu o gesto da aliança. Não precisou que Abraão passasse no meio das carnes dos animais. A promessa de Deus foi feita sem qualquer condição: ele não exigiu nada em troca.

Pe. Francisco de Assis Inácio
Pároco da Paróquia da Imaculada Conceição
Nova Cruz - RN

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