sexta-feira, 1 de março de 2013

III Domingo do Tempo Quaresma



            O trecho lido na I leitura de hoje, retirado do livro do Êxodo, nos recorda uma cena, que está entre as mais célebres da Bíblia. Essa se refere a uma iniciativa solidária libertadora da parte de Deus, na qual o próprio Deus se serve da parceria de Moisés que, por sua vez, parte em missão sob a força do único EU SOU, (revelação do nome de Deus). A Moisés cabe responder em nome da criação inteira: AQUI ESTOU (1ª leitura).
            Deus é eternamente preocupado em promover a vida para todos. É esse o seu projeto. Por isso ele optou em defender, antes de tudo, o pobre, o marginalizado, o oprimido. 
No seu Filho, o Eterno Pai manifestou-se radicalmente, misericordioso. Cabe a nós, tomarmos o cuidado de viver a caridade. “A caridade não tem hora: quanto mais os dias se tornam difíceis e ásperos, odientos e maus, mas ela deve imperar em nós e em volta de nós” [Dom Helder] (Evangelho).
Batizados que somos e alimentados pela eucaristia, seremos sempre interpelados a fazer da nossa vida uma eterna sintonia com a iniciativa amorosa de Deus, em favor dos excluídos, os prediletos de Deus.
Por isso mesmo, São Paulo ainda chama atenção dos cristãos, para que se mantenham fiéis, confiando no apoio de Deus (2ª leitura). 

Ev. Lc 13,1-9)
            Quem já não experimentou por entre os caminhos da vida, situações injustas, ingratas e decepcionantes? Jesus procura convencer as pessoas, dizendo que não significa dizer que, estas ou aquelas que são vítimas de determinados episódios calamitosos sejam mais culpadas do que outras. O que a parábola quer proporcionar é que as pessoas reflitam e decidam enveredar pelo processo da conversão, para poder respirar e construir perspectivas de felicidade, vida plena. Em Jesus, Deus sempre dá uma última chance.  
            Para se fazer a leitura exegética e hermenêutica deste texto, como de qualquer um outro, é preciso que se tenha a lente teológica adequada. Vejamos, Lucas apresenta Jesus a caminho de Jerusalém, buscando mostrar sempre que é nessa cidade onde o Filho de Deus é assassinado – que sob o impulso do Espírito, a Palavra se estenderá a todos, manifestando a prova total do amor de Deus por qualquer um. Assim sendo, o roteiro feito por Jesus até Jerusalém trata de ser o julgamento de Deus.
            É nessa perspectiva que nos encontramos diante do evangelho de hoje. No trecho-luz para a nossa reflexão, São Lucas relata dois acontecimentos históricos: um crime cometido por Pilatos e o desabamento de uma torre ao lado da piscina de Siloé.
a.    À luz da fé, como devem ler as tragédias humanas?
Assim como pensavam os de ontem, pensam também os de hoje, achando que as tragédias humanas são consequências dos pecados praticados, ou seja, castigos divinos. Pecou, não tem como se esconder, pagou!
b.    O que diz Jesus?
Antes de tudo, o que significam as tragédias humanas? São apelos em forma de alerta, para que prestemos atenção e vivamos deforma mais justa a liberdade e a vida. Isto sim! Porém, quem pensa que Deus é o deus vingador, engana-se redondamente. Ele é sim, o Deus oferta-graciosa: “Se vocês não se converterem, vão morrer todos do mesmo jeito” (vv 3.5). Quando as pessoas não aceitam esse projeto, o que poderá acontecer? Elas se destroem entre si e geram um número crescente de excluídos.
c.    Atributos que definirão o ser de Deus: bondade, generosidade e paciência (vv. 6-9)
Trata-se da figueira. A figueira é uma árvore de aspecto simpático e generoso e bastante cultural para a Palestina. Uma das suas particularidades é que ela produz frutos por dez meses ininterruptamente. Um outro detalhe é que ela representa  o povo eleito. Quem planta, por isso tem o direito de procurar frutos é Deus. O agricultor é o seu Filho. A sentença do patrão, ao não encontrar frutos, é severa: visto que Israel é uma figueira ociosa, não tem sentido que continue a viver. Será que Lucas não esteja retratando os chefes políticos, os economistas e até, quem sabe, os religiosos, isto é, as lideranças?
Há uma alternativa feliz! Surge uma solução a partir do agricultor: ele vai remover a terra, adubar e proporcionar mais luz, enquanto cuidará também da sombra, evitando ainda que os insetos ataquem. Esses e outros são, portanto, os elementos necessários para fazer a figueira poder oferecer os frutos necessários.
O que quer nos ensinar a parábola? Diversamente dos outros evangelistas que nos falam de uma figueira estéril, que secou na mesma hora ou pouco depois (Mc 11,12-24; Mt 21,18-22), Lucas, o evangelista da misericórdia, fala de mais um ano de espera, antes da intervenção definitiva.
E mais: A parábola é um convite para considerar esta Quaresma como um tempo de graça, como um novo “ano precioso” que é concedido para que a figueira produza frutos saborosos. Que tal? Se ainda não decidimos converter-nos, modificando nossos pensamentos, nossos projetos, nossas atitudes, chegou a hora de fazê-lo agora.

 1ª leitura (Ex 3,1-8a.13-15)
            Quando a minha catequista dona Ana Moreira nos perguntava quem era Deus, respondíamos assim: “Deus é um ser perfeitíssimo, Criador e Senhor do céu e da terra”. Foi assim que ensinou a catequese trindentina, isto é, o Concílio de Trento (este Concílio foi celebrado em Trento, Itália, de 1545-1563, o 19º, convocado pelo Papa Paulo III).
            Que resposta teríamos, se a pergunta fosse feita a um israelita? Certamente ele responderia assim: “Nós éramos escravos no Egito e Deus veio libertar-nos”. Portanto, essa é a característica “número um” sobre Deus: o “libertador”. É claro que, depois Ele se torna Pai, mãe, rei, pastor, etc. e tal.
            Conforme o relato, o trecho de hoje está assim demonstrado:
1.    Inicia-se apresentando-nos Moisés que está pastoreando no deserto do Sinai.
       Enquanto Moisés está pastoreando o rebanho do seu sogro no monte Horeb, Deus lhe diz: “Eu vi a aflição do meu povo que está no Egito e ouvi os clamores por causa dos seus opressores. Sim, eu conheço os seus sofrimentos e desci para livrá-los das mãos dos egípcios” (vv. 7-8).           Moisés entende que o Senhor precisa deles. Moisés levanta uma objeção: “Eu irei aos israelitas e lhes direi: o Deus dos vossos pais me enviou até vós. Mas se eles me perguntarem: Qual é o seu nome?, o que é que eu lhes direi?” (v. 13.
2.    Segunda parte da leitura (vv. 13-15)
Na segunda parte da leitura encontramos a revelação do nome do Senhor. Deus responde a Moisés: dirás aos israelitas: “Eu sou aquele que sou, ou melhor, “Eu serei aquele que serei”. O que significa? Vereis por aquilo que farei quem sou eu.
Conclusão: É o Deus da aliança envolvendo o ser humano em sua ação salvífica.

II Leitura (1 Cor 10,1-6.10-12)
            Alguns irmãos pensam que é suficiente a recepção de alguns sacramentos, ou mesmo o batismo, para ficarem com a consciência tranquila da certeza da própria salvação. Assim também pensavam alguns coríntios, achando que bastava o batismo para entrarem no céu.
            Paulo reconhecia a Comunidade de Corinto pelo seu fervor, porém, percebia nela essa perigosa ilusão. O que fazer? Para corrigir essa falsa convicção, São Paulo conta o exemplo dos israelitas, dizendo assim: todos os israelitas acreditaram em Moisés e o seguiram (...), mas no fim, por causa da infidelidade, nenhum deles entrou na terra prometida (cf. 1 Cor 10,1-6).
            Alô, alô, nós cristãos, nós os batizados: Lembremo-nos de que as benesses divinas não nos chegam de maneira automática ou de forma mágica. Dizer que acreditamos em Deus, que recebemos a Primeira comunhão e a Crisma não basta, é preciso que demonstremos uma vida parecida com a de Jesus.
            Unidos pela fé, na construção da história, de mãos dadas e erguidas em prece, vivamos interagindo a fé com a vida. Amém!

Pe. Francisco de Assis Inácio
Pároco da Paróquia da Imaculada Conceição
Nova Cruz - RN

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