sábado, 19 de janeiro de 2013

II Domingo do Tempo Comum - comentário litúrgico



Neste II domingo do Tempo Comum, vamos refletir as relações entre Deus e o seu povo, ao modo da relação que há entre os verdadeiros esposos. Aqui, Deus é o esposo, e o povo, a esposa. Por mais que a esposa seja infiel, o esposo manterá sua fidelidade.

 I leitura (Is 62,1-5)
                Contextualizando o fragmento da I leitura deste II domingo do Tempo Comum, é possível sinalizá-lo como sendo do período da volta do cativeiro da Babilônia. É tido como o Terceiro Isaías (capítulos 56-66). Um primeiro elemento que, não deixa de ser válido chamar atenção é a época com suas particularidades, na qual brotou este texto. Época assinalada por grandes decepções e também por grandes esperanças.
                Isaías interpreta Deus que, ao tratar da cidade, Jerusalém ou Sião, Ele o faz a partir de uma linguagem que é própria ao relacionamento entre esposos. Trata-se, portanto, da metáfora do casamento. O estilo é de um poema, no qual se sobrepõem e se fundam a imagem solar e a do rei vitorioso no dia de seu casamento; em termos conceituais, o rei é o sol. A aurora ilumina a cidade (60,1s), que com a sua muralha completada com ameias parece uma coroa refulgente sobre o monte, visível de longe e magnífica.
                A cidade, Jerusalém ou Sião, significa o povo, a nação; tal significado está além do sentido físico. Tudo fala de retorno, de vida nova, de vitória, de “página virada”. O povo está voltando do cativeiro. Esse povo torna-se uma joia nas mãos de Deus. Javé está apaixonada por ela, que já não é uma mulher sem nome, mas tem dignidade, é uma senhora.
                Mas tudo isso tem um preço, é preciso organizar o povo e abrir caminhos.

Evangelho (Jo 2,1-12)
                Assim como a primeira leitura, o evangelho também se serve da imagem do casamento para tratar das relações entre Deus e o seu povo.
                Talvez seja interessante, pelo menos para corrigir um pouco a nossa curiosidade, nos determos em alguns pormenores surpreendentes, que é possível que nos deixem perplexos.
                Por exemplo: Se os convidados já estavam quase ébrios, por que oferecer mais vinho? Por que o texto não fala dos noivos como protagonistas? Por que não se fala da “mãe de Jesus”, sem citá-la pelo nome? Pergunta-se também por qual razão deveria haver numa simples casa tantas talhas de pedra só para as purificações?
                Tudo isso é muito interessante dentro da dinâmica exegética e hermenêutica, porque corrige a nossa abstração no contato com os textos bíblicos.
                Contudo, é bom entendermos o mais importante: não estamos aqui diante de um simples fato de crônica: por trás de um acontecimento aparentemente simples ocultam-se ideias mais profundas! É preciso enxergar os sinais, o significado das expressões, das figuras, do espírito. É o que vamos ver agora.
                O Evangelho de hoje trata das “Bodas de Caná”. Duas ideias básicas, tiradas do Antigo Testamento, estão sempre presentes no Evangelho de João: “aliança” e “criação”. Jesus inaugura a Nova Aliança e dá início à Nova Criação. Situando Jesus num casamento falido, como o de Caná, o evangelista quer alcançar outro alvo, ou seja, mostrar quem é o “esposo da humanidade”.
                Na Bíblia, o casamento é sinônimo de aliança. Na linguagem profética, ser infiel à aliança é a mesma coisa que ser adúltero. A aliança antiga caducou.
                Jesus é aquele que inaugurou a Nova Aliança, aquele que trás vinho novo, em abundância e com ótima qualidade.
                A abundância de vinho (mais de 600 litros, cf. 2,6) era o sinal da chegada do Messias, que vai trazer o amor definitivo. Chegou, portanto a hora de Jesus, que se consumará na cruz, ao provar seu amor de forma ilimitada. Ele veio para todos.
                E o que dizer da Mãe de Jesus no casamento de Caná? Maria, no casamento de Caná é símbolo dos que se conservam fiéis a Deus, na expectativa da realização das promessas messiânicas. Ele faz e lembra a todos que também façam o mesmo, isto é, o que Jesus mandar. Jesus mostra à sua mãe que a antiga aliança não tem mais razão de ser. Ele é o verdadeiro esposo da humanidade, pois traz vida em plenitude. Não se trata mais de troca de favores ou ritos de purificação (as talhas vazias), mas em base ao amor pleno e verdadeiro.
                O acontecimento de Caná assinala o início dos sinais de Jesus que têm como finalidade levar a nova humanidade à maturidade da fé e à posse da vida. Ainda é possível descobrir dentro dos objetivos deste texto a tão frisada “hora de Jesus”. Caná encontra seu ápice na cruz. É lá que se encontra seu amor até às últimas consequências.
                Atenção: É tempo de plenitude, de vinho novo e de ótima qualidade. È hora de Jesus. Só será nova se andar em comunhão com Jesus, o vinho novo, responsável por vida em plenitude.
II leitura (1 Cor 12,4-11)
                Paulo percebe que a comunidade de Corinto está passando por alguns desvios internos e externos. Um desses desvios é a questão dos carismas. A comunidade não assimilara de modo maduro e responsável a vida nova que brotava do evangelho, pois na questão dos carismas dava-se valor unicamente àqueles carismas extraordinários capazes de causar impacto nas pessoas: falar em línguas, profetizar, fazer curas e milagres. Para os coríntios era isso. E o pior, cada qual que quisesse aparecer. Paulo lhes dirá: se alguém, que não é da comunidade, entrar nesse momento, pensará ter entrado num manicômio! (cf. 14,23).
                Os coríntios, portanto, achavam que o Espírito só se manifestava nos dons espetaculares. Por isso Paulo procura alargar o horizonte da comunidade. “São distribuídos muitos dons, mas o Espírito é o mesmo (12,4). Na comunidade, cada um recebe uma manifestação do Espírito para o crescimento de todos.
                Alguns questionamentos: Por que tantos sem a devida definição religiosa, espiritual, cristã? Ou, se a possui, por que não demonstrar com maior convicção cristã? Será que não está faltando “o vinho novo”? Cadê o papel da mãe de Jesus: provar a transformação nas velhas estruturas mentais em cada um de nós?

Pe. Francisco de Assis Inácio
Pároco da Paróquia da Imaculada Conceição de Nova cruz - RN



               


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