sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

4º Domingo do Tempo Comum




Introdução

                Os dois textos bíblicos (a I leitura e o Evangelho) indicados para este 4º domingo do tempo comum nos indicam dois exemplos de fidelidades à própria missão: Jeremias e Jesus.
A primeira leitura fala da vocação de Jeremias. Deus, prevendo as dificuldades que enfrentaria, exorta-o a permanecer firme, como uma coluna de ferro, como uma muralha de bronze.
No Evangelho de hoje, Lucas nos apresenta Jesus, o profeta martirizado, do qual celebramos a prática libertadora e a vitória sobre a morte.
Por isso, é impossível que se entenda celebrar a Eucaristia sem a consciência devida a respeito da adesão a Jesus, o profeta rejeitado e morto. Caso contrário, seria pura alienação. Ou seja, se não há a devida consciência de que somos interpelados pelo Espírito a um envolvimento com o projeto libertador, conforme encapou  o Nazareno, em prol de tudo aquilo que promove a justiça, descaracterizamos o sentido pleno da Eucaristia.
A segunda leitura fala do carisma do amor. Aliás, ela está em perfeita sintonia com as demais leituras. Recomenda o apóstolo São Paulo: “Aspirai aos dons mais elevados”, o dom do amor.
Como batizados, por isso, cristãos, somo profetas e, mais, chamados a acolher a salvação como dom de Deus, salvação disponibilizada a todos e a todas.

· I Leitura (Jr 1,4-5.17-19)
O trecho apresenta a experiência vocacional profética de Jeremias, lá pelos anos 627 a.C., no tempo do rei Josias. Jeremias é natural de Anatot, aldeia dos seus antepassados. Tudo leva a crer que, apesar de ser muito jovem, percebe o chamado de Deus para ser profeta. Aliás, assim ele ouve a Palavra do Senhor: “Antes de formar-te no seio de tua mãe, eu já te conhecia, antes de saíres do ventre, eu te consagrei e te fiz profeta para as nações”.
Como será a vida de Jeremias? Deus o escolheu para uma missão difícil e arriscada: anunciar a sua Palavra aos reis, aos governadores, aos sacerdotes e a todo o povo. Por isso, sua vida será uma sequência de fracassos. É estranha a vida do profeta! É mais do que estranha: É dolorosa e desafiadora, - bem o sabemos – são sempre colocados à margem. Quem poderá confirmar tudo são os “próprios profetas de ontem”, e os que ainda são vivíssimos hoje e sempre no coração de todos nós: Jesus Cristo, Dom Helder, Dom Oscar Romero, Pe. Josimo, e tantos leigos e leigas, cujos nomes, propositalmente nem sempre aparecem. “Quando dou pão aos pobres, todos me chamam de santo. Quando mostro que os pobres não têm pão, me chamam de comunista e subversivo” (Dom Helder Câmara).
Mas por que é assim? Porque o profeta contempla o mundo, morada de Deus, com os olhos de Deus. A sua sensibilidade é semelhante ao coração de Deus. Ele sente quando o projeto divino é afrontado e negado pelo projeto dos homens, vencendo, portanto, a morte sobre a vida. Aí então é que não consegue mais conter a sua indignação, não pode mais calar-se.
Na segunda parte do trecho (VV. 17-18) Deus anuncia a Jeremias o que lhe acontecerá. Não o engana.
A leitura termina com palavras de esperança e de conforto. Assim diz o Senhor: “Serás atacado, mas não conseguirão vencer-te, pois estarei ao teu lado para proteger-te” (v. 20).
Alguns questionamentos poderíamos fazer a nós mesmos, por exemplo: Temos consciência da nossa vocação profética? Deixamos  envolver pela Palavra de Deus e pelo seu Projeto em prol da “vida em abundância”? Não sentimos, às vezes, ou sempre, que a nossa vida cristã está bastante “adocicada”, ou “insípida”, na hora que é preciso dizer a verdade, denunciar situações e atitudes contrárias ao Evangelho?   

·  Evangelho (Lc 4,21-30)
Num primeiro momento, não nego, fico um tanto embaraçado ao interpretar o trecho do Evangelho de hoje: É bastante complicado entendê-lo com evidência a razão pela qual os nazarenos passam da admiração pelo Mestre, o ilustre conterrâneo, aos insultos à tentativa de linchamento. “Levantaram-se e o expulsaram da cidade. Levaram-no para o alto do morro sobre o qual a cidade estava construída, com a intenção de empurrá-lo para o precipício”. Quanta violência! Miserere mei Deus!
“E a evocação dos fatos tirados do ciclo de Elias e Eliseu estabelece um paralelo entre Israel e Nazaré. Nazaré passa a ser o protótipo da rejeição de Jesus por Israel”. Jesus é um profeta, sim, não somente porque ele sabe-se enviado, mas porque é rejeitado. Eis o critério que permite verificar a autenticidade de sua vocação: “... nenhum profeta é aceito na sua própria terra” (v. 24).
O povo de Nazaré se perde, perdendo para sempre a possibilidade de estar em contato com o libertador e salvador, excluindo-se do
“hoje” do Deus que age na história (v. 21). Perdoem-me, mas que gente impiedosa e estúpida!
Conforme o Evangelho do domingo passado, o projeto de Jesus é libertar os oprimidos e marginalizados. A rejeição de Jesus e seu programa de vida começa em Nazaré e culmina em Jerusalém, onde ele é julgado por um tribunal iníquo, crucificado e morto, graças aos seus opositores.  
Rejeição a Jesus, por que?  O primeiro motivo é a encarnação: “Não é este o filho de José?” (v. 22a). E por aí vai! O povo espera um messias espetacular, capaz de ações mágicas. O segundo motivo é a busca de milagre: “Faze também aqui, em tua terra, tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum” (v. 23b). Jesus se recusa a cumprir sinais em benefício próprio.
Nazaré negou todas as possibilidades de acolher a libertação, recusando totalmente o Filho de Deus e seu Plano de Amor.  Mas quem disse que possível deter o processo de libertação? “Jesus, porém, passando pelo meio deles, continuou o seu caminho” (LC 4,30).

·  II Leitura (1 Cor 12,31-13,13)
Conforme já foi visto na leitura do domingo próximo passado, em Corinto havia discórdias e invejas por causa dos carismas. Depois de ter afirmado que todos os dons provêm do Espírito e se destinam a edificação da comunidade, o Apóstolo Paulo indica para os cristãos um


caminho mais excelente que todos: a caridade. O que ele nos quer ensinar é que alguém pode ser dotado de excelentes qualidades, tomar retumbantes iniciativas; mas se não for movido pelo amor totalmente gratuito e desinteressado, se for dominado pela vaidade e pelo desejo de promover a si mesmo, não possui a “caridade”. “Quer dizer que a virtude das virtudes, a virtude sem a qual, todas as demais nada são e nada valem é a Caridade” (Dom Helder).

Pe. Francisco de Assis Inácio
Pároco da Paróquia da Imaculada Conceição
Nova cruz - RN 

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