sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

V Domingo do Tempo Comum



Introdução

            Marchar no mesmo terreno não faz avançar o desfile. O mesmo se diga de quem se mantêm com os braços encruzados, esperando por quem ficou ou não ficou de passar. Ou seja, essas simples afirmações poderão servir de alerta para os questionamentos feitos por Deus na (I leitura): “A quem vou enviar? Quem irá por nós?” queremos responder: “Aqui estou! Envia-me!”.
            Ambas as leituras (a 1ª leitura e o Evangelho) trazem-nos duas vocações: a do profeta Isaías, e a dos discípulos missionários, transformados por Cristo em pescadores de homens. Conforme a narração do Evangelho de hoje, Jesus está diante de muita gente espoliada, “sem voz e sem vez” para ouvir sua orientação libertadora. Ele celebra sua vida em comunhão conosco, olhando-nos de frente, garantindo sua eterna parceria, quando diz: “Não tenha medo! De hoje em diante serás pescadores de homens!”. 
            Também na 2ª leitura aparecem outros testemunhos vocacionais de pessoas escolhidas para a ação missionária. São testemunhos da ressurreição de Cristo. Paulo se considera o menor dos apóstolos, porque perseguiu a Igreja de Deus, mas tem consciência de que é pela graça de Deus que ele é o que é (cf. vers. 10). Embora pecador, Paulo se tornou um dos mais notáveis pregadores do Evangelho.

Ø I Leitura (Is 6,1-2a.3-8)
Estamos aqui diante da experiência de vida de um homem chamado Isaías que, ao apresentar a história da sua vocação, se serve de imagens. Certo dia, enquanto rezava no Templo de Jerusalém, percebe que o Senhor o chama para ser profeta. Ao sentir que Deus está lhe chamando para ser profeta, sente medo, porque tem consciência da sua própria indignidade: “Ai de mim, estou perdido! Sou apenas um homem de lábios impuros, mas eu vi com meus olhos o rei, o Senhor dos exércitos” (v.5). Como pode ele, homem de lábios impuros, anunciar a palavras do Deus três vezes santo? (v. 5).
Deus, porém, na sua infinita misericórdia, não se escandaliza, afastando-se das pessoas por causa dos seus limites humanos; ele tem o poder de purificar a qualquer um e torná-lo apto a transmitir a sua mensagem. Agora Isaías não pode mais resistir ao chamado do Senhor e responde: “Eis-me aqui, enviai-me” (v. 8).
Atenção para determinados comportamentos: Há quem pensa que não tenha pecado; só os outros pecam. Mas, virando a página, há também quem imagina que possa ser o maior pecador do mundo.  São situações, portanto, contraditórias. Cuidado, “nem tanto ao mar, nem tanto à terra”.
Pois bem, quem sabe, se até os nossos ardorosos presbíteros, os nossos incansáveis evangelizadores, os nossos infatigáveis catequistas não passem por aquela sensação de indignidade quando, ao explicarem a Palavra de Deus, constatam, com pesar, que o seu próprio comportamento está em contraste frontal com aquilo que estão ensinando. E o mais estarrecedor é perceber que, alguns se cansam e até desistem da caminhada missionária. Desistir? Renunciar? Só a Satanás!
Isaías, embora sentindo-se indigno, não hesita. Diz imediatamente: “Eis-me aqui, enviai-me”. Os nossos pecados são grandes, mas a misericórdia de Deus é maior. A própria Palavra de Deus que anunciamos nos irá purificando aos poucos.
                       
Ø Evangelho (Lc 5,1-11)
“O que é necessário para sermos missionários?”
Num primeiríssimo momento, é preciso ter presente que o evangelista Lucas quer mostrar que o lago de Genesaré é o “lugar teológico” onde Jesus desenvolve sua atividade missionária libertadora. No próximo momento, o evangelista quer, mediante a narrativa da pesca, salientar que a missão dos discípulos tem o seu prolongamento nas ações de Jesus (cf. Atos dos Apóstolos). Num terceiro e último, Lucas traça quais as condições úteis e necessárias para alguém ser discípulo missionário: dar a devida atenção à Palavra do Mestre e deixar tudo para salvar a todos.
a.      “Jesus no meio do povo”
Qual a constatação do Mestre? Ele vê duas barcas ancoradas na margem do lago, redes lavadas, pescadores desanimados por não terem pescado nada. Esta é a situação do povo encontrado por Jesus: um povo sem perspectiva de vida. O povo está precisando de palavra e ações libertadoras, capazes de ter revertida a sua situação.
b.      “Jesus ensina com autoridade e a partir da realidade do povo”
Ele sobe na barca de Simão e procura um lugar mais adequado para ensinar. O que Ele ensinou com sua comunicação? Comunicou palavras libertadoras.
c.       “Simão deposita sua fé na Palavra do seu Mestre”
Agora, sim, o sentido daquilo que é dito por Jesus passa a ser compreendido e amado pelo velho Pedro. Aquele que era acostumado a comandar os seus sócios, agora é comandado pelo Mestre, de quem ele passa a ser sócio: “Em atenção à tua Palavra, vou lançar as redes” (v. 5b). O resultado da confiança na Palavra do Mestre reverte a situação. O que houve? Rede cheia, quase que se rasgando. A Palavra do Mestre gera a abundância para todos (v.7).
d.      “Deixar tudo e seguir a Jesus” (vv. 8-11)
É interessante salientar que, Pedro se afasta do Senhor, igual fez Isaías, por se considerar pecador. Mais um outro detalhe: Simão, nesse momento, chama Jesus de “Senhor”, título atribuído ao Cristo ressuscitado.  A pesca, nesse contexto, é proporcionadora de abundância, isto é, de sinal de vitória do Cristo sobre a morte.
Como é impressionante sentir que, a partir do momento em que as pessoas acolhem a Palavra libertadora, Jesus as associa ao seu ministério: “De hoje em diante você será pescador de homens” (v. 10b). Eis aqui a força transformadora que tem o projeto de Jesus: promover e libertar a qualquer um! E para realizar tal projeto ele convoca a todos os que deram à sua Palavra e o seguem, deixando tudo, para salvar a todos (v. 11).

Ø II Leitura (1 Cor 15,1-11 ou 3-8.11)
 Paulo, na sua catequese, procura explicar à comunidade de Corinto, por que saiu pregando que o crucificado é o Messias, isto é, a esperança da humanidade. Ele mostra qual foi o conteúdo desta catequese básica: Cristo morreu por nossos pecados, foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia e apareceu a Cefas e aos Doze (vv. 3b-5).
Trata-se de algumas pessoas que negavam a ressurreição e, por isso, não lhe davam a mínima importância. Que problema sério!
Paulo lembra a mensagem do cristianismo: o Messias Jesus morreu por nossos pecados, foi sepultado e resuscitado segundo as Escrituras.
Sua convivência pessoal com Jesus ressuscitado trouxe-lhe a força, o ardor, a graça divina, que o fez trabalhar bem mais que os outros, embora confesse considerar-se um “aborto”, isto é um ser imperfeito.

Ø  Conclusão:
Não esquecer o desafio de Cristo é preciso: “Avançar, aventurar-se em águas mais profundas”: eis o provocante desafio de Cristo a Pedro. Só a Pedro, não, mas também a José, a Maria, ao Pe. Assis, e a tantos e tantas...


Pe. Francisco de Assis Inácio
Pároco da Paróquia da Imaculada Conceição
Nova Cruz - RN

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